Memórias 7 Antonio Luiz

04.01.2018

Paris foi para mim uma imersão no cinema, pois via-se tudo! Do falso gozo com a plastificada pornografia americana a história no cinema dos Straubs. Sem pretensões líamos tudo e andávamos pelas ruas e cafés da Cidade Luz. Descobríamos vivendo, os desafios da liberdade: o do ser para os sonhos! Foi aí que conheci o delicado ser humano e fotógrafo Antonio Luiz com quem anos depois faríamos o seu primeiro longa metragem comigo: "Cronica de um Industrial". Anti-depressivo por natureza, Antonio estava sempre acompanhado de uma bonita mulher. Sabia-se que no Brasil estava tudo interditado pelo atraso e burrice das armas! Na França uma liberdade aparente, ou vigiada. Ainda assim, melhor que o permanente retrocesso a barbárie que se vivia e segue-se vivendo no nosso Continente! Voltamos né? Tinha-se que se voltar. Volta-se sempre. Oprimia-me a ausência de amigos e familiares. O tempo parece não passar quando se está fora, e passa! Voltei a encontrar o Antonio Luiz e rodamos sem NADA, o nosso melhor filme com Renato Coutinho, Ana Miranda, Wilson Grey...e grande elenco! Dos longas que fiz até hoje, foi o filme mais prazeroso vivido depois do "A$suntina das Amérikas" que eu sigo amando por representar sim, o fim da minha juventude. São as minhas duas locomotivas, já hoje ao lado de "Dois Casamento$" e "Guerra do Paraguay". Antonio fotografou o "Cronica" com tempo, carinho, respeito e gozo. Sua singularidade como fotografo é o de ser elegantemente o outro, sem deixar de ser ele. Sua sensibilidade dava maturidade as minhas tantas dúvidas. E uma vez definido o enquadramento, o movimento dos personagens passavam a ter como referência a história, e não o cinema! Um filme sem efeitos, sem espetáculo, sem excentricidades... Um criativo enfrentamento dos muitos horrores da ditadura no próprio corpo proibido de gozar! Bem, o modelo não era Hollywood dos "007" ou "Rambos", mas o Brasil dos muitos clichês televisivos, já como identidade. A burrice, por exemplo, de papagaios repetindo textos idiotas! "Crônica" era um outro tipo de análise, pegada e beleza. Pois a imundície política, é sempre para quem cria superada pela poesia! E foi por onde fomos na invenção de uma outra história para todos! Como fotógrafo Antônio é sim uma adequação a uma experiência rica do olhar. Faz do que seja linguagem e poesia. E isso quer dizer afeto, musicalidade, alma, pintura, erudição, flutuações, suavidade, encantamento, solidariedade e por fim intensidades! Escrever sobre Antonio Luiz na nossa "Cronica", é não se assujeitar a nada! Vendo o filme nos dias de hoje em dvd, acho-o uma espécie de ópera de uma época triste, que infelizmente voltou a se repetir como praga do capital financeiro. Só que não temos mais 30 anos! E envelhecer desestabiliza o corpo e a vida. A opacidade da morte passa a ter o sentido do fim. E muitos são hoje, os personagens de ontem! Luiz Rosemberg Filho/Rô