Memórias 14 SALÒ ou os vinte dias de Sodoma

07.01.2018

Equivocadamente me chamam de brigão. Não sou, mas é assim que me vêm; nada posso fazer! O que eu não sou, nem nunca fui, é ser simpatiquinho ou puxa-saco. Ofício muito comum no nosso cinema. Vi isso com muita clareza nos anos de INC. Mas como todo mundo, tenho inimigos. Demoro a romper, mas quando o faço o outro para mim morre! Também sempre me recusei a ser simplório ou rasteiro para ser gostado. Basta ver o meu cinema mais próximo da anarquia que do pastorzinho histérico pedindo sempre dinheiro na TV! Meus alicerces são sobre a necessidade de construirmos um mundo melhor para todos, sem fazer uso da demagogia barata muito comum nos discursos e partidos políticos. E sim resgatar pensamentos, encontros, trocas e afetos! De um modo geral amo as pessoas com quem trabalho. Faço um grande esforço para não brigar, mas pode as vezes ser necessário. A graça de criar é muito maior que este ou aquele choque com atitudes divergentes. Ocorrem né? Mas desprezo o bom comportamento inchado de culpas e medos como na religião. Como dizia Lou Salomé: "Não me inclinarei perante as ordens de ninguém, se ele mulher, homem, deus, diabo ou Estado". Essa bestialidade hipócrita da afirmação ou do sucesso a qualquer preço muito comum na TV, nunca me tocou! Sempre achei que todo criador honesto é um deus devasso, e isso me basta. Deixo a estupidez aos estúpidos e aos políticos. A ficar preocupado com as futricas mesquinhas do poder, prefiro visitar as obras de Sade, de Nietzsche ou de Walter Benjamin. Acho que me tornam mais humano. Mais doce e solar! Quem gosta de fazer o povo se sentir humilhado e sofrer é a classe política e o fascismo. E Pasolini deixou isso muito claro no seu genial filme inspirado em Sade chamado "SALO". E é o que se vive hoje no mundo, e muito aqui. Pena.