Memórias 248 Encontro com Nelson Pereira em Paris

29.09.2018

Um dia caminhando pelas ruas próximas do metrô Odeon em Paris, encontrei o Nelson Pereira e acho que seu fotógrafo do TENDA DOS MILAGRES. Estavam na Cidade Luz finalizando o filme tirado de um livro do Jorge Amado. Ainda não éramos amigos, nem próximos mas Nelson me convidou para sentar e pedir para beber o que eu quisesse que a produção pagaria. Fui para o vinho tinto que eu sempre amei e amo. Conversa vai conversa vem me disse que algumas pessoas estavam me criticando no Brasil, pela edição pirata do livro com os depoimentos do Godard do ACOSSADO ao DETETIVE. E que ele próprio Nelson achava que teriam coisas mais importantes para serem editadas. Concordei e disse-lhes que eu não era editor, e tinha passado um bom tempo com livros já traduzidos do Dziga-Vertov e do Rosselini atrás de editoras, sem sucesso. E que o Godard só tinha sido editado pela minha amizade pessoal com o dono e bom tradutor da editora Taurus. Eu havia feito a seleção dos depoimentos e a Taurus bancou! Eu estava em Paris tentando trazer os filmes feitos pelo Grupo Dziga Vertov para o lançamento do livro, e não consegui nem cópia pirata. Pouco tempo depois soube por um amigo que o Ministro da Cultura o senhor Celso delicado havia aceito a burra interdição do delicado filme sobre EU VOS SAÚDO MARIA por pressão idiota da igreja. Achamos que era um bom momento do livro ser lançado: proibido nos cinemas e liberado nas livrarias! Acho que foi o nome da crítica do Fernão Ramos na Folha de São Paulo. Aí resolvi ficar mais um tempo por lá pois o Brasil não mudava! Eu que não era editor tinha sim um projeto de livros de cinema e teatro para o país que não rolou. O Brasil da ditadura sempre foi muito burro! A preciosidade que o Alex Viani fez na Civilização Brasileira queríamos continuá-la com outras editoras e novas edições. Os 21 anos de ditadura foram sim um HORROR para a cultura e o pensamento pois proibiam tudo e todos! Foram anos de perdas, angustias e tristezas. Éramos todos consumidos pela representação caquética dos valores conservadores da Casa Grande. E como bem dizia Millor Fernandes: "Os ricos são o sal da terra. Por onde eles passam não cresce a grama". Precisa falar mais? Luiz Rosemberg Filho/RÔ