Memórias 251 Ainda sobre Novais Teixeira

30.09.2018

Muitas pessoas ficaram intrigadas por eu ter dedicado nossa jóia chamada A$SUNTINA DAS AMÉRIKAS a um velho crítico português exilado em Paris e apaixonado pelo Brasil. Nada mais justo né? E o dediquei por respeito, admiração e carinho. Sempre que podia me elogiava o Paulo César Saraceni, o Nelson Pereira e o Tonacci que nos aproximou. Foi uma amizade muito interessante pois discutimos muito cinema e política. Acho que o Novais era anarquista! Infelizmente não pude mostrar-lhe nenhum trabalho meu. No dia que consegui fazer uma exibição do IMAGENS para amigos e convidados ele entrou no hospital e poucos dias depois veio a falecer. Não era um crítico arrogante, afetado ou dono da verdade. Gostava muito de ouvir o outro. Poucas vezes discordamos mas sempre numa boa e no vinho tinto! Amava Buñuel e o cinema brasileiro. Eu o conheci bem e o achava um doce bem humorado de ser humano. Parecia muito o Mario Carneiro pois amava todas as mulheres do mundo! Numa das vindas ao Rio lhe trouxe de presente o LP de QUANDO O CARNAVAL CHEGAR, do Cacá. O vi deixar correr uma lágrima pois sabia que ele gostava do filme e da música, e eu não! Como ele via quase todos os filmes em festivais pelo Estadão, raramente em Paris ele ia ao cinema. Ficava em casa recebendo os amigos e lendo muito. Me deu alguns livros que nunca chegaram ao Brasil. Brecados na censura aqui no Brasil. Digo isso pois achei um dos livros de um dramaturgo belga muitos anos depois num sebo com o meu nome escrito. Censura e burrice sempre andam juntas! Parece que tinha um namoro escondido, mas nunca fui apresentado a ela. Como era um mulherengo podia ser qualquer uma. Tinha uma vida muito simples e adorava receber. Gostaria de tê-lo filmado como filmei o Mário Carneiro e o Sérgio Santeiro juntos num filme pouco visto sobre o cinema novo. A minha única exigência é que fosse sobre pessoas queridas. Mas sobre o Novais não foi possível. Me faltou pique e contatos. Como fomos muito próximos por bons tempos, seria bom ouvi-lo falar sobre os velhos pois trabalhou também no Brasil, e novos amigos. Não me arrependo de ter-lhe dedicado o nosso "A$SUNTINA DAS AMÉRIKAS". Eu não tenho dúvida que o Novais adoraria e se encantaria com o trabalho da Analu Prestes que foi um sol nos anos 70! LUIZ ROSEMBERG FILHO/RÔ