Memórias 256 A arte dos atores

02.10.2018

Me é ainda estranho quando certas pessoas queridas morrem. Foi o caso de Nelson Dantas, Wilson Grey, Ricardo Miranda, Tonacci e mais recentemente Nelson Pereira dos Santos com quem conversava em muitas manhãs na Cobal de Botafogo. Não tê-los mais na vida me é difícil de aceitar. No que toca a brigas e rompimentos sérios, o outro desaparece e perde toda importância. Não sofro nada pelos velhos e novos rompimentos, e sim pela morte de amigos. Mas numa das muitas conversas recentes com o Nelson Pereira ele me perguntou com quem eu ainda gostaria de trabalhar no cinema? Disse-lhe que do passado tinha a Glauce Rocha, o Dib Lufti, a Isabel Ribeiro, o Nelson Xavier, o Zózimo Bulbul, a Dina Sfat e o saudoso Oscarito. Dos vivos o Renato Laclette, o Lauro Escorel, a Byanca Bayton, a Clara Choveaux e mais recentemente a Helena Albergaria. São mais que atores, mas luzes como respirações intensas e profundas à mercê de fragilidades pensadas e poéticas. Gosto muito da arte dos atores. Gosto de escrever para eles, e já fiz muito isso. Claro que a HISTÓRIA é importante, mas sem os atores vira só um bom ou mau documentário. Mas nada contra o documentário! Mas as minhas preocupações passam pela ficção. Gosto de ver os atores viverem seus personagens nos revelando nossas fraquezas. Tenho saudades dos velhos encontros criativos. Das andanças sem rumo pelas ruas de Copacabana com Echio Reis. Da inabalável segurança de Analu Prestes com seu personagem anárquico em A$SUNTINA DAS AMÉRIKAS. Do raro bom humor do Nelson Dantas mas feliz da vida. Da seriedade do Renato Coutinho, da doce e luminosa simplicidade de Ana Miranda, das muitas conversas no Beco da Fome com o Wilson Grey. Da tenacidade bem humorada de Lutero Luiz. Das muitas substâncias sensíveis de Ana Abbott. Da essência plural de Alexandre Dacosta. Da ambição criativa de Igor Cotrim e da sabedoria ousada de Tonico Pereira. Meu prazer repousa sobre todos. E todos fortalecem a imagem da necessidade do cinema. Vida longa para todos! (P/Toca Seabra) Luiz Rosemberg Filho/Rô

Toca Seabra