Memórias 265 Fabiano Canosa

05.10.2018

Como ser humano é um esboço de múltiplas existências ao longo do mundo. Ontem Paris, depois NY, depois... muitos espaços vivendo de coração aberto o cinema pelo mundo. Não quis ser cineasta, crítico ou produtor, mas admirável como amigo dos amigos. Mas poderia ter sido um grande produtor, um grande crítico, um grande mestre e por que não um grande cineasta pois tinha o cinema no sangue! Preferiu viver cinematográficamente , viajar pelo mundo e amar suas paixões do Brasil ao universo. O vi sendo elogiado pelo Glauber, pelo Nelson, pelo Cosme Alves Neto, pelo seu amigo Echio Reis e por mim sempre! Muito pelo seu permanente bom humor. É um doce só que de limão. Divertido quando quer é sempre um grande movimento de muitas cores alegres. Vê tudo que é filme, conhece bem o cinema e é parte viva da memória do nosso cinema. Já lhe disse muitas vezes para botar no papel as suas muitas desobediências pelo mundo. Não tenho dúvida de que leríamos preciosidades pois é um eterno jovem que só respira a Sétima Arte. Mas não no sentido da artificialização das ideias e das imagens, mas da necessidade de uma solarização poética do olhar do outro. Quando fizemos O JARDIM DAS ESPUMAS muitas vezes Echio que fazia o papel principal se sentava ao meu lado e elogiava o amigo, acho que na época meio afastados. Fazíamos um filme seríssimo mas ríamos de nossas vidas pessoais. Como tinha vindo da Bahia adorava conversar com extrema inteligência e sensibilidade. Foi ele quem trouxe o bom humor do Labanca para o filme. Faltou um ator que faria um torturador, botei o paletó e fiz eu mesmo o personagem sem a menor timidez. Quando Echio soube pois não tinha ido as filmagens rimos muito pois eu nunca aspirei ser ator. Um outro fato curioso da filmagem só revelado agora, é que ele não gostou muito do figurino e me pediu permissão para rasgá-lo em cena atuando no seu personagem, ficando o filme todo só de sunga. Ri e disse-lhe OK! Ainda jovem mas já com responsabilidade se jogava fundo de cabeça no que fazia. E esse seu amigo até agora não citado o inspirava a seguir em frente com classe, seriedade e afeto. Seu nome é Fabiano Canosa! O eterno namorado do cinema. Eram muito amigos. Fizeram e Fabiano ainda faz parte da nossa geração insatisfeita com a política burocratizante da cultura e do país. Pena. Luiz Rosemberg Filho/RÔ