Memórias 289 O cinema como um ofício sagrado, NÃO RELIGIOSO

13.10.2018

Nunca alimentei pretensão alguma de poder ou de gênio da raça. Encarei o fato de fazer cinema como um ofício sagrado, NÃO RELIGIOSO! Exceto a total falta de apoio e de grana, fiz o cinema possível. Coloquei várias joias raras nesse ofício duro, ingrato mas fascinante. Analu Prestes, Cidinha Milan, Renaud Leenhardt, Marta Luz...Joias incapazes de trair. Embora assuma todos os filmes de cabeça erguida como exercício e expressão linguística, prefiro os primeiros pelo real encantamento e liberdade apesar de terem sido boicotados pela censura por política e imoralidade. Sempre fiz filmes de linguagem! Isso significa dizer que meus projetos foram todos anti-entretenimento digestivo difundindo sim a história, o saber e a sexualidade não travada ou culpada. Agradeço sempre aos velhos amigos por quem tenho profundo sentimento de gratidão. Em quase mais de 70 filmes só fui traído por 3 ou 4 idiotas oportunistas e sem o menor talento. Alpinistas! Num meio tão cheio de egos inflados e surtados 3 ou 4 desnaturados, convenhamos que não é nada. Poderia ser igual a A, B ou C mas quis ser diferente sem apadrinhamento algum nessa salada de frutas do cinema brasileiro. Paguei e pago um preço mais caro. Mas, sempre amei as muitas incertezas e as dúvidas. E fiz das ideias e imagens música para os olhos reunindo infinitos movimentos para os sons indefinidos. O Marcito sabe do que eu estou falando! Ganhou até prêmio e já até foi copiado numa apropriação de um filme menor. Sou sim uma espécie de invasor anárquico nos muitos artifícios da normalidade. Embora concorde com Artaud que já dizia: "A arte está muito próxima de sua decadência.", faço uso da poesia como imagem ou palavra e vou caminhando sem lenço, nem documento. Infelizmente a grosseria do capital, da censura e da burocracia não me deixaram trabalhar com um mínimo de condições. E se fiz muito foi pelo cinema estar no sangue, só que querendo subverter tudo. Até mesmo o sentido do espetáculo. Um filme de guerra entre países só com quatro personagens não diz alguma coisa de diferente? Enfim se fosse filmada por Hollywood teria centena de mortes, ações bélicas intimidatórias e espetáculo de maneira gratuita e insensível. Já o nosso "PARAGUAY" foi sim uma aula de cinema essencial a uma história que não para de destruir e matar civilizações. Por isso eu a trouxe até os dias de hoje. E em nenhum momento o menor assédio do espetáculo como primazia da indústria da crueldade. Ainda bem! Luiz Rosemberg Filho/RÔ