Memórias 295 O $ANTO & A VEDETE

15.10.2018

Na vida e no cinema sempre fui muito curioso. Nunca tive medo de desafios. Me lembro bem que quando vi "UM ROSTO NA NOITE" Dostoevsky dirigido por Luchino Visconti, na Cinemateca de Paris, fiquei pasmo por ler depois que todo filme havia sido rodado em estúdio. Tanto interior como exterior. Bem Visconti foi sempre um dos meus mestres ao lado de Antonioni, Rosselini e Pasolini no rico cinema italiano. Tudo que fizeram sempre me encantou fundo. Quando surgiu a possibilidade de rodar "O $ANTO & A VEDETE" que deveria ter sido um filme de encomenda ruim, achei interessante trabalhá-lo no estúdio da CINÉDIA , já que o produtor era amigo do pessoal que trabalhava lá. Não era mais com o Ademar Gonzaga, mas com a sua filha Alice. Bem, apesar de todas as limitações do argumento que era do produtor, conseguimos fazer um trabalho vivo, ousado e até certo ponto criativo. Mas as três coisas novas que tive o prazer de trabalhar foi contextualizar o argumento escrevendo o diálogo. Filmar com a lindíssima luz de Pedro de Moraes, entender a grandeza e cumplicidade de Luthero Luiz e o sonho de filmar num estúdio onde eu havia começado com a inesquecível Glauce Rocha. Não era o filme dos meus sonhos que eu estava fazendo, mas era o filme possível de ser feito por mim naquele momento de total desencanto pelo continente. E por que não? Consegui reunir velhos e novos amigos e o fizemos de pé sem vergonha alguma. Isso foi bom pois todo mundo se empenhou em ir além de uma possível pornochanchada que estava na moda, e também deles mesmo. Sei que sempre houve um preconceito em se filmar em estúdio, mas eu amei! Num só espaço você pode fazer um quarto gigantesco com neons, uma igreja, uma delegacia e até mesmo um inferno! Pode se tiver talento né? E como tínhamos isso de sobra por parte de todos, nos superamos num espaço de sonhos e erotismo. A saudosa Saraca Barreto que vinha do Teatro Oficina era minha assistente, e me pediu para fazer o papel da empregada do senhor Chupadinho interpretado genialmente pelo Luthero Luis. Fiquei indeciso pois ela era negra e poderíamos cair numa visão comum da presença do negro no nossa TV. Aí ela me disse: " -Rô eu posso fazer bem e enloquecer com humor essa personagem. Não se preocupe com patrulhas!" Topei e ela foi magistral. Rimos muito com o trabalho dela que era um anjo como ser humano. Tenho boas recordações dessa filmagem e amei juntar Luthero, Nelson Dantas, Wilson Grey, Telma Reston, Renato Coutinho, Adriana de Figueiredo, Paula Nestorov, Pedro de Moraes, Marta Luz e por fim Jards Macale. Ou seja só pérolas raras. Pena o cinema ter virado um ofício careta e burocrático! Luiz Rosemberg Filho/RÔ