Memórias 298 Cenografia

16.10.2018

Alguns estetas me criticam por em muito filmes dos curtas para frente, a ausência de uma cenografia mais elaborada. De modo algum sou contra uma cenografia apurada, ousada e criativa. Adoraria ter tido em alguns trabalhos que fiz dinheiro para pagar um precioso cenógrafo como Hélio Eichbauer. Mas nunca tive como pagá-lo. Por outro lado quando escrevo um roteiro penso muito na facilitação de uma construção simples das imagens e mesmo da produção. Tento não sacrificar nada, mas já construído soluções possíveis para a produção. E no caso do não-cenário, pode perfeitamente funcionar como personagem e mesmo linguagem. É o caso de "DOIS CASAMENTO$" onde num espaço imenso de um velho teatro abandonado e totalmente escuro só a noite, de um ex-condomínio de luxo tinha uma imensa pedra no palco. Claro que eu a aproveitei! E acho mesmo que o espaço todo tomado pela escuridão passa bem, sem o menor problema o que se vive no país perverso e conservador. Amei não ter nada em cena! Apenas um banquinho surrado, duas taças, uma garrafa de vinho e a pedra! Não temos ainda um Svoboda, mas já tivemos um Hélio Eichbauer e alguns poucos mais inventivos e ousados como o cenógrafo de "OS PRÍNCIPES" por exemplo, que resolveu várias locações num só espaço. O que é preciso é saber imaginar, sonhar e olhar as muitas possibilidade dos espaços e retrabalhá-los! Não ser tímido e buscar substâncias em forma de encantamento e poesia. Isso equivale falar em expressão e linguagem rompendo de certo modo com a imunda função só do barateamento da produção. Que nossos homens de muito ou pouco dinheiro sejam mais bem formados e se possível sensíveis! Sei que é pedir muito, mas o cinema agradece. Um cenário inventivo agrada tanto a quem o faz, como aos atores e mesmo os espectadores habituado com as mesmices do espaço do dia-a-dia e do país que se recusa a ser mexido para o bem. Aqui segue funcionando a truculência, a burocracia, a traição, a exploração e o golpe. Pena pois não se constrói nada melhor assim! (P/ ANALU PRESTES) Luiz Rosemberg Filho/RÔ

Analu Prestes