Memórias 328 Saudades dos tempos em que trabalhava com velhos atores vindo do teatro como.......

26.10.2018

Tenho muitas saudades dos tempos que trabalhava com os velhos atores vindos do teatro como Echio Reis, Nelson Dantas, Labanca, Renato Coutinho, Luthero Luis... Ou das chanchadas como Wilson Grey. Não teria feito os filmes que fiz sem a colaboração visceral de todos! Mais que atores, cores fortes em movimentos ousados e permanentes sem a menor censura ou medo. Não tenho dúvida de que estão na história do meu cinema. Faziam do mais simples personagem a arte sublime da entrega. Muitas vezes silenciosos brincavam com seus personagens. Que arte sublime é a do ator! Hão de convir que de cada um, uma infinidade de caminhos válidos até o infinito. E como pensava Balzac: "O infinito não será o segredo das grandes melancolias?" Nenhum deles queria brilhar individualmente, mas manifestar o amor no que estavam fazendo com a alma. Eis uma semelhança com as descobertas do afeto. O Nelson Dantas me disse muitas vezes como seu personagem podia ser um idiota, e ótimo de ser pensado e vivido? Décadas depois senti essa pegada com o talentoso Tonico Pereira, e já agora também com jovens atores como Alexandre Dacosta, Ana Abbott, Igor Coutrim... São também mais que atores mas caminhos diferentes em viagens espaciais em seus personagens através de entusiasmos e palavras pensadas sendo ditas e vividas cada um a seu modo. Sempre detestei o clichê das certezas, da fama ou do sucesso muito comum nos atores menores. E mais ainda nos que se acham a última Coca-Cola gelada do deserto. Esses ainda são piores pois já estão podre! Enfim, o esvaziamento de certezas nos remete as intensidades do vazio e da solidão sem espetáculo algum. Mas é exatamente daí que temos que partir para nos descobrirmos como este ou aquele personagem de "MACBETH" ao nosso "OS PRÍNCIPES" na descoberta de uma linguagem diferente. Linguagem de fé nas palavras e gestos imprevisíveis como Igor Coutrim se estapeando depois de ver o avô morto! Como bem afirma o psicanalista Christian Dunker: "Existe muita maldade no mundo, mas às vezes, se nós ficamos juntos ela aumenta...ainda mais." Entenda-se por maldade também as traições desnecessárias e burras! E o que caracteriza o atual Brasil é a truculência, a burrice e a traição. Ou seja, "bem-vindos" ao descompromisso histórico que ganha força no mundo e muito aqui! Tentamos falar sobre isso num pequeno/grande filme com belíssimas interpretação de grandes atores. (P/ Analu Prestes) Luiz Rosemberg Filho/RÔ

Analu Prestes