Memórias 365 Renaud Leenhardt

24.12.2018

Extraordinário, irreverente e incomum no mundo do cinema tenho com o fotógrafo Renaud Leenhardt mais de 50 filmes feitos durante mais de 40 anos! Suas imagens são infinitas e ao mesmo tempo próximas. Não filmamos para o nosso mercado de aberrações, mas para que a vida e o olhar possam ser mais belos. É mais que um bom fotógrafo, mas um velho amigo associado a uma noção de essência com sutilezas, palavras ou mesmo silêncios que vão além das suas imagens poéticas. E a palavra imagem é sim uma conjugação de forças do saber em movimento permanente. O verso e reverso de um transe criativo cultivado pela nossa triste história política. Ou seja, de nada adianta filmar se não se tem o que dizer com coragem e experimentação. Como bem diz Kazuo Ohno: " É melhor penetrar fundo, até o âmago dos âmagos, mesmo das coisas minúsculas, tratando-as com cuidado e um tempo dilatado." Foi como fizemos "O JARDIM DAS ESPUMAS", "A$SUNTINA DAS AMÉRIKAS" e agora o delicado e inventivo "O BOBO DA CORTE". São mais de 50 filmes feitos! Pode não ser nada para os Idiotas dos mil filmes, mas para mim são lições de história numa referência à Chaplin, Brecht e os Straub's Fizemos muito! Num país real teríamos uma luz de possibilidades no útero da criação de ideias e imagens. E o que temos que suportar já velhos é uma insossa política partidária de ódios e recalques. E vem o "novo" fardado de velho com a morte se fundindo a vida. Apenas expresso o meu HORROR a tudo e todos! Renaud busca expressão em cada enquadramento e o faz com saber e poesia. Nunca consegui dinheiro para lhe dar condições melhores de trabalho. Nem por isso ele desistiu e está de cabeça erguida na história do nosso cinema. Mesmo com pouco segue em movimento! O que importa é através das imagens dar alguma expressão ao cinema/Brasil! E se possível vazio do entulho patriótico/religioso. Renaud atravessa o reino dos mortos que é a atual política, filmando um "BOBO DA CORTE" como essência crítica para além do poder. Uma vez mais filmamos para que muitas subjetividades se unam. E as poucas imagens dessa força são sim o desabrochar de "flores do infinito". Flores que se abrem mesmo na escuridão da história. Que o cinema siga sendo um poético ato de resistência a morte, descobrindo e vivenciando novos temas. Vida longa para esse fotógrafo genial chamado Renaud Leenhardt! (P/o dia de Natal) Luiz Rosemberg Filho/RÔ

P/ o dia de Natal