Memórias 385 Hernani Heffner acha em Paris O JARDIM DAS ESPUMAS e IMAGENS tidos como perdidos

12.01.2019

Desagradar faz parte do universo do cinema. Falo claro, não do cinema de mercado mas no de invenção como defendia o queridíssimo Jairo Ferreira. Disse-lhe uma vez em Sampa, que meus filmes demorariam décadas para serem descobertos. Mas que seriam descobertos! Foi o que aconteceu com "O JARDIM DAS ESPUMAS" e "IMAGENS" tidos como perdidos e achados 35 anos depois em Paris, pelo incansável Hernani Heffner! Vendo-os décadas depois já velho na Mostra de Tiradentes voltei a me sentir jovem! Me lembro que na época queríamos mudar o Brasil, o mundo, as pessoas... Eu ainda acreditava na força do cinema. Tudo estava proibido e não nos deixavam ver nada, mas já tínhamos o cinema de invenção nas veias! Também foi emocionante ver "DEUS E O DIABO" no desaparecido cinema Ópera na praia de Botafogo a meia-noite. Foi sim um desentupimento de medos e recalques! O filme de Glauber liberou o nosso cinema para a história e para os sonhos. Alguns idiotas tentaram imitá-lo mas fracassaram. Mas mexeu no imaginário de todas as gerações. Foi bom e necessário. Depois "VIDAS SECAS", "OS FUZIS", "MATRAGA", o genial "TERRA EM TRANSE" e o surgimento do cinema de invenção que as companhias estrangeiras provocaram um racha feio e nebuloso. Os dois lados embarcaram na briga, e os dois lados saíram perdendo estudos, encontros e afetos. A ditadura comprou o passe do cinema pornô e jogou-o como sendo uma terceira força. Deu no que deu a "força" do pior cinema de mercado do Continente. Burrificamos sons e imagens! Como toda ditadura seu processo é interromper a multiplicidade das manifestações culturais. O cinemão pornô foi ótimo para a ditadura de 64, substituindo o pensamento pela pornografia. A partir daí surgiu o cinema burro televisivo de mercado preenchido por um humor grosso como a tropa dizia gostar! Empobrece-se a percepção dos sonhos, mas os produtores aumentavam suas cifras bancárias e hoje pontuações idiotas na Ancine. Mistura-se tudo e acaba sendo o que estamos vivendo. Pena. (P/ Renato Laclette). Luiz Rosemberg Filho/RÔ

Renato Laclette