Memórias 396 O SANTO & A VEDETE

23.01.2019

Fazer cinema é pensar muito nem sempre ordenadamente. É mexer em espaços, cores, objetos, movimentos e emoções. É saber dar ao olhar um tempo diferente de entendimentos e afetos nobres. Para mim o fim de um filme me lembra um pouco a finitude da vida. Ou seja, não tem o depois. O depois não é mais do realizador. A mim sempre deu um certo medo. Daí no filme viver intensamente a importância do invisível. Como mexer com os personagens entre a luz, os objetos e mesmo o espaço? E o que fazer da força das palavras ou mesmo do silêncio? Bem, está se criando no Brasil o modelo de produção de Hollywood onde o produtor escolhe não só a equipe técnica, como os atores. Pode até ajudar mas não é bom pois acaba sendo sim uma imposição do capital. No "SANTO & A VEDETE" o produtor queria a Bruna Lombardi e o Agildo Ribeiro que tinham um programa cômico na TV do azul marinho! Não só não os procurei como passamos semanas discutindo outras opções. Não foi fácil. O produtor queria o Claudio Marzo e eu o Nelson Dantas, o Luthero Luis ou o Wilson Grey. Acabou aceitando o Luthero meio dividido. Mas o Luthero como ator eu AMEI! Foi perfeito e se entregou ao personagem. Adriana de Figueiredo e Paula Nestorov caíram nas suas personagens como uma luva! Talentosas, ousadas e lindas. O produtor me dizia que eu tinha cara de bom moço mas era brabo. Eu lhe respondia que longe de ser brabo eu não era idiota. Que se eu estava assinando o filme com um argumento que não era meu, eu precisava ter prazer de ter uma equipe que era minha. Não tenho nada que reclamar. Fomos próximos até nos afastarmos pois ele queria que o Miguel Borges montasse e eu discordei. O Miguel viu o filme e felizmente disse que o filme não montava e que era maluco! Chamei quem eu queria: a doce Martaluz e tenho um puta orgulho do trabalho dela. Sendo mais velho e já tendo uma boa parte da vida/vivida acho que os produtores deviam se preocupar mais em respeitar mais o trabalho dos outros e arrumar dinheiro para todos viverem um pouco melhor. Produtor que fica urubuzando filmagem e querendo que o filme do outro tenha sua filhota oligóide, sua mulher e mesmo sua mamãe, é o fim da picada! Pode-se fazer um! Mas não dois ou três! Vira zona familiar. E não é das mais nobres experiências! Luiz Rosemberg Filho/RÔ