Memórias 53 Como pensar o silêncio ?

28.01.2018

Como pensar o silêncio? Nesse mal-estar de muito barulho por nada, que significação tem o silêncio? Pode-se ensaiar o silêncio? Como realizá-lo no cinema e mesmo na vida? O silêncio satisfaz aos afetos? Por que nunca existe o silêncio na política? Claro que me refiro a um silêncio criativo, e não obrigatório como nos regimes ditatoriais/golpistas! Fiz dois filmes mudos: “IMAGENS” e “AS ÚLTIMAS IMAGENS DE TEBAS”. Amei tê-los feitos tal como estão. décadas depois o “IMAGEM” foi musicado por um jovem músico talentoso chamado Gustavo Jobim. Foi uma idéia luminosa do jovem produtor Cavi Borges, pra se conseguir vender o filme para a TV! O sonho é livre e não se pode ainda proibi-lo. O dito cinema de mercado odeia o silêncio pois só sabe conviver com a barulheira que nada diz. O cinema já foi mudo, e falava muito. Hoje fala muito e diz pouco. Digamos que o silêncio segue externando uma paixão pelas descobertas. O silêncio das fantasias nos sonhos proibidos. O silêncio de uma fecunda relação amorosa. E entre pulsações e fantasias a linguagem do prazer de gozar a liberdade. Seguidamente penso na maestria da atriz Luciana Froes no filme “GOZO/GOZAR”, onde a palavra ocupa todos os espaços do silêncio. Era uma experimentação humana e poética. Ela lê belissimamente o texto com o silêncio estampado em seu rosto de mulher amada. Amo esse trabalho que introjeta o silêncio no som das palavras. Digamos que a potência do silêncio cai sim, no modo de pensar. Olhar uma mulher bonita em silêncio é falar da sua força como pulsão ou mesmo linguagem. E quanto tempo no amparo e mesmo no desamparo suporta-se o silêncio? Que papel ocupa o silêncio na finitude humana? Ousaria dizer que seu gozo e beleza reinam no fundo do mar. As sereias e os peixes não escutam os barulhos da nossa porca política! Muito por isso nós civilizados os comemos fritos ou crus como no Oriente. Indo mais longe diria que aprender a amar é uma das exigências do silêncio! Eclodir silêncios é intensificar desejos, sonhos e paixões. E para que o prazer possa ser criativo é preciso intensificar sim o silêncio. É preciso reintegrar o silêncio no cinema, sem abrir mão da palavra e da poesia.” (P/ANA MIRANDA) Luiz Rosemberg Filho/RÔ.