Memórias 9 Vinicius Brum

05.01.2018

É sim delicado pensar e criar na ficção, imagens que não sejam comuns, idiotas ou televisivas. Digamos que a indústria do entretenimento cega em sua eterna "infância" perversa! E num mundo de milhões e bilhões de imagens bostais, como reencontrar nela um espaço de vida potente e criativa? Penso numa busca de caminhos, encontros, afetos, linguagens e singularidade pois a imagem não precisa ser associada ao patrocinador. O que sabem esses seres sem profundeza humana alguma, da riqueza do processo criativo? Então, um encontro, algumas conversas doces e bem humoradas num passado não muito distante. Depois palavras, inserções poéticas e encontros. Ora, como assimilar o outro ainda desconhecido num possível trabalho a ser feito? O outro que é sempre uma rica viagem sem fim no exaustivo ofício do cinema. Faz-se amigos com facilidade na sétima Arte, mas poucos são os que ficam. Poucos são os que dão dimensões poéticas a sensações nem sempre muito claras. Essas aproximações podem ser boas e criativas, ou má! Vini para os amigos, ou Vinicius Brum para os mais distantes é o que eu chamaria de uma orquestra bem afinada de traços muito curiosos e doce. Fascinado por enquadramentos espaçosos e limpos, fez comigo dois lindos trabalhos: "Dois Casamento$" e a "Guerra do Paraguay". Descobrimos os dois argumentos , nos descobrindo como seres pensantes e humanos! Vini deu aos dois filmes uma espécie de luz, muito pessoal, raramente vista no nosso cinema. Digamos, um acesso a plenitude de sonhos demoníacos! Ana Abbott, Patrícia Niedermeier, Alexandre Dacosta, Chico Dias...foram utilizados e filmados afetivamente como sombras de uma pequena/grande história: o casamento e a guerra. Guerra que muitas vezes sai do casamento! A noite e o dia de sangrentas batalhas vividas na intimidade da alcovas, e no coletivo das batalhas. O casamento hoje, o Paraguay ontem! Vini filmou tudo e todos, evocando nossos demônios e impondo resistências simbólicas com suas imagens poéticas. Imagens enunciadoras de trevas histéricas e históricas. A existência de um Brasil que só existe traindo, invadindo, humilhando e matando. O casamento e a história entre a arte e a guerra. Sou/somos todos gratos a essa sua força do olhar, para nós mais que essencial. O ser confuso do saber que Vini não representa, dando lugar aos encontros, ao saber e ao afeto. Ênfase a sua inserção entre Mário Carneiro, Dib Lufti, Renaud Leenhardt, Pedro de Moraes, Lauro Escorel, Toca Seabra, Renato Laclette... Os melhores né? Que seja longa sua doce musicalidade com as imagens que dançam na poesia do olhar de todos! Viva Vinicius Brum! O cinema brasileiro agradece o seu empenho! LUIZ ROSEMBERG FILHO/RÔ