Memórias 10 Anotações para um filme não feito

05.01.2018

“Anotações para um Filme não feito”. Para Ana Nogueira. Daqui a cem anos não estaremos mais aqui. Como estará a Terra? Vivendo a fantasia dos povos e Nações, ou a escuridão de um prolongado inverno nuclear? Não encontro uma só resposta assimilável. Dostoievski dizia que: “Somos capazes de ficar em silêncio no nosso subterrâneo durante quarenta anos, mas quando abrimos e irrompemos à luz do dia, então falamos, falamos, falamos…” E de que falam os meios de comunicação de massa? Não falam nada! Só que atuam pesadamente na alienação do sujeito. Humilham a existência humana. Nas imagens da TV, as guerras são sempre mostradas como aventuras necessárias. “Filmes” e “filmes” sobre heróis. Nunca sobre a extinção da vida humana. A máquina das imagens ruins assume o seu poder de controlar, alienar, intimidar, vulgarizar e brutalizar. Instalá-se como autoridade. O holocausto nuclear só serve como as fantasias hipócritas de Hollywood. Mas, eclodirá ou não? Desse tipo de fraqueza ninguém fala. O homem é só vendido como uma fortaleza. Conclui-se daí que só se vive mentiras. Nunca o saber, o pensamento ou o gozo. Bem, bombas são construídas para a guerra. Sua produção em escala industrial transcende toda e qualquer previsão destrutiva. O transe militarista se tornou macabro. Dominação ou devastação? No vácuo de nossas vidas, o medo usado de maneira baixa pela religião! Falta sim substância ao tempo presente. O controle é eficaz. Produz sucesso, fiéis, armas, poder, fanatismo, dinheiro, corrupção e Golpes de Estado! Institucionaliza-se o HORROR! E o que se pode esperar dessa corja suja e comprometida de políticos, religiosos fanáticos e maus comunicadores? Nada. Reina a infelicidade nas pequenas repúblicas ocupadas pela traição. No jogo político a repetição dos golpes do passado. Estabiliza-se a manipulação repressiva. Mas…é preciso impor limites! Quem tem necessidade de bombas nucleares? A bomba sabe esperar. E se houver erros? O inferno será democratizado para todos! Como diz Jonathan Schell: “A terra é o maior dos sistemas de suporte da vida, e o dano causado à terra é o maior dos perigos oferecido pelas armas nucleares”. Investigar a incerteza nuclear e política em que vivemos, é localizar bem o futuro. É passar do fanatismo bélico-religioso para um possível entendimento da necessidade da Paz. Não como palavras mas como decisão! Foi o homem que incapaz de gostar, ser gostado e gozar, que gestou a bomba atômica, a bomba de hidrogênio e agora a de Nêutrons…. Foram convocados cientistas, industriais, políticos, religiosos e militares. Bilhões e bilhões de dólares foram gastos com guerras e armas! Em 1945 a história do mundo mudou com as bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki. De lá para cá, o arsenal nuclear das “superpotências” se tornou incalculável. A Terra poderá ser destruída centena, e centena de vezes. Já foi dito que ” quem sobreviver, terá inveja dos que morreram”. Nessa vulnerabilidade de dementes, vive a Humanidade! Desestabiliza-se toda e qualquer segurança! E como confetinhos coloridos, somos oprimidos diariamente por programas e novelinhas imbecis! Nem sensibilidade, nem gozos, nem paixão! Apenas o tédio e a repetição. Me deixo permanecer no labirinto das palavras. Entre as ideias e os sonhos, o silêncio. Mergulho fundo no avesso do sucesso: a experiência! E através de impulsos, o ato simples e difícil de pensar e escrever! Me recuso o espetáculo alienante dos filmes de Hollywood! Mesmo no caos o nosso universo é outro. Também não quero justificar a pobreza como espetáculo. Vejo com tristeza os nossos muitos cafetões da miséria, fantasiados de políticos! Ser simpático a essas oposições de merda é fácil! O difícil é pensar e ser um bom autor ou ator! Passeio pelos labirintos do tempo. Vou da decepção com o humano, a tragédia grega. É preciso superar o lado artificial da viagem. O calor dos corpos que não mais se juntam na solidão dos tempos. Sozinhos, não se tem mais porque representar. Entre ruínas e sonhos, o fim opaco de tudo. E na aridez daquilo que restou, o Ser como uma última paisagem. Seremos todos esquecidos. A eficácia do experimental acabou.Nossa única tarefa é a procura da morte! Não se realizará mais nada. Não é um trabalho sobre a bomba, mas sobre a alma das palavras de amor que não foram ditas! Digamos: um passo além da passividade do país, do inferno político e das máscaras da representação religiosa que não muda nada. O experimental que sempre incomodou, passa a viver um outro momento: o da delicadeza e da transparência! Já é um avanço! LUIZ ROSEMBERG FILHO/RÔ