Memórias 11 Paulo Emílio

06.01.2018

 Paulo Emílio me convidou para passar o nosso “A$suntina Das Amerikas”, numa de suas aulas na ECA. Não éramos próximos mas eu o respeitava como um pensamento independente criativo. Bem, como o filme estava proibido por sua fecunda liberdade e imoralidade, quiseram impedir o filme de ser exibido.Paulo bateu o pé, e exibiu o filme. Que depois foi tirado às escondidas da universidade. Tempos feios! Como alunos que eu me lembre, tinham duas jóias que me acompanharam pela vida: Joel Yamaji e Cristina Amaral que foi a última grande companheira do Andrea Tonacci. Finda a exibição o Paulo fez uma defesa do filme brilhante. E depois me convidou para o almoço, acho que na própria ECA. De defesa feita horas antes veio com a comida uma crítica ainda que afetuosa, dura! Me perguntou: ” -Como você faz um filme como esse num momento tão feio como o que se está vivendo no país? Me desculpe te falar assim, mas você tá jogando o teu talento, que nos é importante, fora!” Talvez tivesse lá sua razão, mas discordei com educação dizendo:” -Se formos fazer só o que nos é permitido fazer, na verdade não faremos nada de novo!” Depois discutimos educadamente por um bom tempo, e nos despedimos. Me impressionou a sua educação, a sua preocupação e a sua maneira rica de exaltar e criticar ao mesmo tempo. Era muito mais que um crítico/estudioso/apaixonado mas um aprendizado de vida! Um mestre requintado diante de um eterno recomeço, o que na verdade sempre fui e sigo sendo. Fiz e ainda faço sobre a lama que volta e meia toma conta do país! O poder não suporta que se viva feliz sendo e criando! Gozam com a dor e o bode. Dedico esse artigo ao crítico FERNANDO ORIENTE! Um outro exemplo a ser seguido, pensado e estudado. Não por gostar do nosso cinema, mas por gostar do mestre Michelangelo Antonioni.