Memórias 12 Sobre o "Imagens"

06.01.2018

Para João Arthur. Um bom filme é sim, um discurso visual poético que é preciso sentir, olhar e pensar em profundidade. Quebrar resistências, vagar sem direção no imaginário e por fim se possível refletir sobre a "pérola" de Godard/Bazin ´logo no início do genial "O Desprezo": "O cinema substitui nosso olhar por um mundo que esteja de acordo com o nosso desejo". Em outras palavras: é preciso que as imagens passem intimidade, organicidade, liberdade, gozos e naturalmente história/política. Bem, sutileza é uma coisa que a classe política e religiosa, ignora a existência. Daí a falta de frescor nas ações e nas palavras sempre afirmativas, autoritárias e sem contradição alguma. Usam a política e a religião para se sentirem deuses idiotas no poder! E o que eles denominam fé, ordem, trabalho, progresso nós suscitamos e respondemos com caminhos, gozos e liberdade plena aos sonhos e desejos proibidos por uma moralidade imoral conservadora e reacionária. Caminhos em doces alicerces sobre proibições variadas! Não é Novarina quem diz que "pensar é derrubar as ideias mortas? Derrubar os muitos discursos que não dizem nada. Derrubar o vazio hipócrita da política e da religião espetacularizada na TV. Derrubar a ordem que produz o medo, o tédio e a dor... Penso no idiotismo existente entre a podridão do poder e a devassidão nunca assumida publicamente. Bem, a opacidade dá sim dimensão a barbárie onde reina o silêncio como estranheza do poder. Poder apático inominável como expansão do uso do esquecimento. Ainda ontem o doce exercício de uma frágil liberdade amorosa. Hoje já não é mais ontem. E é por essa razão que não mais nos reconhecemos como humanos! Nos assujeitamos a tudo em silêncio. A mídia despreparou o coletivo para que um deus abstrato possa reinar, mancomunado com o deus/dinheiro. O deus/dinheiro bem-sucedido estilizando e faturando com desembaraço na miséria dos fiéis. E em sua travessia pelo desamor, o uso constante da violência, do espetáculo, do naturalismo, do mal-estar, da miséria, da fome, da doença, da representação bufa, da comunicação, do medo, da intimidação dos discursos , da barbárie, do não-pensar, da não-ideologia, da devoção paga com o não-prazer na vergonha abjeta de um assujeitamento ao mercado e ao consumo ... Eu voltava ao Brasil cheio de sonhos e referências de Brecht a Godard. Bem, mas aqui toda volta é um rebaixamento a obscuridade da política de ontem e de hoje. Ora, como fazer experimentações ousadas e abertas no fascismo permanente do Continente? Experimentar é sim estilizar linguagens complexas e profundas. E foi o que fizemos no nosso "Imagens" apesar do mal-humor do fotografo que só estava fotografando pois tinha uma câmera sua. Mas é uma sensação estranha trabalhar com quem conspira contra você! Assumindo o risco, avançamos! "Imagens" não tem espetáculo ou estrelinhas da TV, mas amigos singulares e amáveis que deram maturidade a uma realização muda (pois não se podia falar) do fascismo vendido como clichê religioso, já na TV. E essa representaçãobufônica vem até hoje! A ruminação mental dos programas religiosos são o quê? E a única imagem possível do país era do medo e do silêncio. Como foram duros de suportar os Anos de Chumbo! Foi desse tempo sem encantamento algum com o país que fizemos o "Imagens". E o mundo só piorou. E aqui....poder e religião se misturam obedecendo às leis do capital. Pena! LUIZ ROSEMBERG FILHO/RÔ.