Memórias 17 Dr. Walderedo Ismael de Oliveira.

08.01.2018

Foi o cansaço das derrotas na saúde e no trabalho que me levaram a procurar fazer análise. Como não tive infância, fui sim um jovem/velho. Tive pais maravilhosos, mas dei muito trabalho à família como um todo. Tito meu irmão era pequeno, não entendia a minha doença e eu de certo modo sem saber vivia lhe pedindo coisas e mais coisas, inúteis. Mas talvez fosse a maneira de vê-lo fazer aquilo que eu não podia fazer pois vivia engessado da cabeça aos pés. Sempre gostei muito de música clássica pois sempre me fizeram suportar a imobilidade dos anos. Queria ser uma música de Chopin, pois todos poderiam me ter. Fui para o cinema fazer filmes. Fáceis para mim, mas difíceis para o público do passado. Hoje já são tidos como reveladores de um momento difícil da nossa pobre e empobrecida história! Não vou dizer que foram fáceis os anos de análise. A sorte é que fui ser paciente e depois amigo do Dr. Walderedo Ismael de Oliveira. Amante do cinema do Bergman e de belas mulheres. Era sim um inominável encantador e analista de sonhos, e interpretações profundas. Me disse algumas vezes depois da alta, que se voltasse outra vez à vida, queria fazer cinema! Foi para mim uma bóia de salvação pois cheguei à análise muito triste com tudo nos nossos encontros terapêuticos de segundas e quintas, por anos e anos no seu consultório na rua Bolívar em Copacabana. Bem na frente do cinema Roxy! Muitas e muitas vezes em análise, entrava mudo e saía calado. Era duro suportar o país, os desencontros afetivos e mesmo o trabalho nas artes plásticas e no cinema! O processo de desalienação do paciente como eu, por parte do Dr. Walderedo, era extremamente bem humorado, preciso e fundamentalmente afetuoso. E uma das frases suas que ficou para mim: ” -Não existem batalhas só com perdas e derrotas!” Era brilhante como analista e ser humano. Tive que lhe dedicar com respeito e afeto o meu melhor longa “Crônica de um Industrial” feito até hoje ao lado do “A$suntina Das Amérikas”. O “A$suntina” representando o fim da minha juventude. E o “Crônica” como a entrada no bode da vida adulta! Mas sem a análise eu não teria feito muito mais filmes que marcam de certo modo minha passagem pelos afetos e pela vida!”