Memórias 18 Europa

08.01.2018

“EUROPA”: O Brasil estava péssimo, e predominantemente burro como agora. Os muitos documentos do passado, hoje comprovam a imundice da barbárie. E como sempre muitos são os bufões falando em Democracia. Mas onde? A fixação era sim no sonambulismo do povo e numa tentativa de eternalizar a violência como santidade necessária ao poder. Os velhos bufões gostavam e a mídia também. Foram duas décadas vividas de opacidade vitoriosa dos covardes. E na ilegibilidade da opacidade, a necessidade de mentir para se saírem bem na fotografia da história! Ora, que consistência humana tem um Golpe de Estado? Golpe como sempre preenchido por um infinito excesso de clichês. Excessos de clichês como negação da vida, do humano e da poesia. Bem, o desejo de deixar o país sempre me foi confuso. Vivi alguns anos lá fora sempre dividido pela dúvida do certo e do errado. Mas fora pude ver Godard, Pasolini e os Straubs. Aqui, a moralidade/imoral das proibições. Lá fora fiquei pasmo quando vi “AMOR LOUCO” do Rivette, “FALSTAFF” do Orson Welles, “ICE” do Robert Kramer, “SALO” do Pier Paolo, “OTHON” dos Straubs… Aqui ainda hoje em 2017 só passou “SALO” com a chegada da “Abertura”! Curiosamente o Brasil visto de muito longe, nos parecia menos perigoso. Sabíamos que a inquebrantável fé na ditadura não seria para sempre. Como não foi. Mas fez muito estrago. As pessoas que vinham do país, nos falavam horrores! Uma ditadura é pior que uma guerra pois são irmãos se matando entre si, por intenções duvidosas e na verdade falsas. E como era possível acreditar em seres religiosos e fardados? E no que foi que deram 21 anos de dores, perseguições, proibições e sofrimentos? Lá fora o país era visto sem nenhuma grandeza. Os alicerces dos muitos discursos oficiais eram como hoje o do Bolsonaro: pífios sem verdade alguma. Mas foi bom ter encontrado em Paris, Glauber, Nelson Pereira, Tonacci, Claudo Khans, Antonio Luis e o Zé Vicente. Quis pedir-lhe os direitos para adaptar e filmar a sua genial peça “OS CONVALESCENTES”. Mas ele me disse que a tinha tirado de cartaz pois achavam (?) um texto meio comprometedor.. E era e é para mim o mais belo texto do teatro brasileiro ao lado do “O REI DA VELA” e de todo o teatro do Nelson Rodrigues. Fiquei de procurá-lo na volta ao país, e não o fiz. Algum tempo depois soube que havia falecido. Pena. De qualquer forma os anos de Europa me deram paz de espírito. Escrevi vários roteiros e namorei muito! Pelo menos isso né? Já que não mais tínhamos o país, tínhamos nossas belas mulheres.