Memórias 22 Cinema virou praga ?

10.01.2018

Nunca gostei muito de fazer filmes para competir com A, B ou C! Que insignificância é essa de ter que competir? Virou corrida de cavalo? Consegui expor um trabalho selecionado entre 10, já deveria ser um prêmio! Digamos que o lado negativo da competição no cinema é estabelecer regras sempre duvidosas (pois são “amigos” ou inimigos que escolhem), vitoriosos de um lado, e submissos derrotados do outro, numa espécie de festinha da crueldade. Não seria isso a pauperização da criação? Dá-se então legitimidade a estupidificação de egos, não e nunca a criação, Digamos que é uma jogada hábil do mercado pois tais eventos custam muito dinheiro e quem produz ou faz ganha uma estatueta em geral feia ou um papel duro. Bem, não me valeu nada ter estado em Berlim, ou mesmo Cannes. Vi com meus próprios olhos que eram apenas festinhas ou festões para os egos! Assumem ser o cinema só um negócio por espaço, venda e capital. E que importância tem para o pensamento, uma produção pobre e independente?Nenhuma importância. O cinema das competições é na verdade a exuberância do capital! Quando eu estava com a Crônica de um Industrial na Quinzena, os Straubs estavam com Pavese na Semana da Crítica. E o grande acontecimento foi o Coppola vendendo o “Apocalipse Now” na competição! Ganhou né? É sem dúvida um grande filme em todos os sentidos. E sua primeira exibição em Cannes foi num porta-aviões a tarde para os militares graduados que estiveram lutando e perdendo na guerra da Indochina! Ou seja, cinema e guerra dançando juntos! A pergunta: finda a mexida nos egos, que caminho seguir nessa guerra por espaço e capital? Como harmonizar com o público, um filme sem espaço algum, censurado por burocratas no seu próprio país de origem e tagarelando em Cannes? São muitos os abismos existentes entre a produção de um pequeno filme sem apoio algum, e o espaço minimíssimo a ser ou não conquistado. Tudo no cinema te leva sim a perder a doçura dos encontros e dos afetos. E os que nem conseguem fazer? Ali, jaz um fantasma ambulante arrastando seu corpo sem recordações, imagens e sons. Um estrangeiro no seu próprio país. Seus frutos maduros já apodreceram. Tristeza que competição alguma leva em conta! Muitos traem! Muitos morrem e muitos desistem de sonhar. Cinema virou praga? (Para o Papai Noel chamado por Cavi Borges) Luiz Rosemberg Filho/RÔ