Memórias 24 Até agora o digital trouxe mais benefício para a publicidade e a TV

12.01.2018

Nunca fui amante da tecnologia, e desconfio que ela na verdade esconde controles políticos e ideológicos. Já acho bastante difícil saber contar bem uma história que faça pensar! Me importa mais ver a criação de um personagem num bom ator, que este ou aquele que sabe apertar uma infinidade de botões de câmeras e ilhas digitais. Não nego a importância, e as imensas facilidades que trazem. Mas…um bom roteiro/representado me toca muito mais. Vai nas veias do olhar como o cinema de Godard, ou no teatro do Brecht/Artaud. Não que não se possa fazer um bom uso da tecnologia que é sempre muito cara, mas acho-a limitada no percurso do pensamento dialético, ou histórico. Ou seja, hoje vive-se o estágio Digital, como um culto simplório onde todos podem filmar! Mas filmar o quê? O digital é sim um “progresso” da inovação tecnológica. Mas para que tem servido aqui no país do atraso histórico e humano? Serve a religião, a publicidade, a TV, ao “espetáculo”… O que tem ganho os espectadores com isso? Nada. Animou a Sétima Arte, ou empobreceu a história do pensamento? O próprio conceito de espetáculo não é pobre? E para que serve? Heróis ainda vendem? E o que me interessa os heróis em 3D de Hollywood? Mas são heróis inventados, ou manipulações ideológicas? O que nos interessa essa disseminação dos horrores colloridos da violência? Me desculpem os que gostam, mas caguei para o Homem Aranha ou a Mulher Maravilha! Maravilha são sim as nossas mulheres! Icônicas, solares, cultas, doces, queridas e lindas e como todo ser humano com qualidades e defeitos. Um sorriso de Sônia Braga que não conheço, vale mais que 300 cambalhotas e socos da Mulher Maravilha! Me permito achar que até agora o digital trouxe mais benefício para a publicidade e a TV, que para o cinema que vem sendo infantilizado por Hollywood. A má formação do nosso processo repressivo e religioso, agradece! Ou seja, precisamos sim de um desencantamento da técnica idiotizante, para uma volta do encontro com o humano. O ser humano como obra de arte. A arte como sublimação do encantamento, da beleza e da poesia. E se possível num novo aprendizado da construção de imagens e sons para uma real transcendência da mesmice, muito usada como técnica na TV. A TV como infantilização impregnada de fascismos. E fascismo que agrada a religião de brancos espertos, a ordem e ao progresso. E o humano uma vez descartado ou deletado onde é que fica? (Para a atriz Ana Abbott).