Memórias 25 EXPERIMENTAL

12.01.2018

EXPERIMENTAL : Planos fixos de um espaço indefinido. solar e vazio. Procura-se palavras e pensamentos onde a essência é o não-dito. A imagem procura no enquadramento, o que o corte não tem clareza. O não-visível torna-se sensível pelos ruídos, amplificando toda a inapreensibilidade do real e do olhar. Em um plano detalhe ampliado. uma mão masculina penetra com delicadeza numa vagina. E dela tira a clareza da vida. Sons indefinidos onde palavra alguma pode esclarecer o que seja. Mas talvez seja essa a essência das criação: o fazer pensar! E não se esquecendo nunca, como dizia o poeta Paul Valéry: “…que toda mente é moldada pelas experiências mais banais”. Digamos que num filme experimental a palavra já está dizendo o que é: com certeza absoluta sua linguagem não é um rolo de papel higiênico, muito comum no cinema espetáculo sem contradição alguma. São sim conceitos, imagens, encontros, afinidades, transes, desencontros, sonhos, linguagens, poemas, proximidade…ou seja, experiências vivas de afetos numa procura do “choque”, que tanto defendia Walter Benjamin. Digamos, uma procura das contradições sem os reducionismos necessários do cinema de mercado onde tudo flui como nas novelinhas televisivas. Ousaria até dizer que no experimental as imagens podem ser inaturais como sua linguagem. Impuras as suas imagens e os argumentos nem sempre muito fáceis. O experimental pertence à ordem do pensamento e do trabalho, com a desordem da beleza e da poesia como referência. Mas edifica-se na mídia como sempre vendida, uma ideia vulgar de que o cinema é só mercado e capital. E qualquer outro questionamento é visto como transmissão de ódio ou ressentimentos! Na verdade odeiam movimentos e pensamentos, além do conformismo dominante, cúmplice na verdade da barbárie! Entendam: o fascismo nunca largou seu empreendimento sistemático contra uma renovação do pensamento, supervalorizando o culto religioso, o fetichismo, a mercadoria, o consumo, a TV, a publicidade, o espetáculo e mistificações assustadoras tipo Medici, Ustra, Collor, Temer, Crivella, Doria, Bolsonaro… A lista é infelizmente longa. Mas, que estranheza histórica precisa dessa gente? Seres absolutamente inexpressivos que acabam santificados no poder! Mas faz algum sentido essa constante reprodutibilidade técnica do horror de suas imagens? Bem, o experimental é contra tudo e todos, podendo ser tudo! E é sim um longo aprendizado que passa pelos encontros, afetos, pensamentos e a vida. Mas nem tudo que é experimental é bom ou necessário. Ainda assim está mais próxima de Brecht que de Hollywood. Para a experimentação, o pensamento atinge dimensões mais significativas que esse holocausto do consumismo que vive hoje a humanidade entre guerras e Golpes de Estado. Triste história, triste tempos… (P/ JAIRO FERREIRA E ANDREA TONACCI ONDE ESTIVEREM). Luiz Rosemberg Filho/Rô