Memórias 29 O olhar

15.01.2018

A domesticação do pensamento faz sim cegar os deslocamentos necessários para o gozo/gozar e a vida! O fascismo que se vive hoje no mundo faz odiar a feição autoral como significações necessárias e poéticas. O olhar tem de ser uma versão potente tanto da liberdade, como da ousadia. Do contrário é pornografia! Mas o sistema quer sim uma espécie de má-consciência como linguagem e história. Dá-se visibilidade a uma miniaturização do gozo e da sensibilidade. Olha-se tudo muito, e pouco se vê. O olhar não é afirmar nada, mas fazer pensar sim. No cinema pensar na plasticidade dos enquadramentos de “Terra em Transe”. Reencontro neles planos de ruptura como aprofundamento de dúvidas e dívidas com a nossa literatura urbana. Ora, como expressar um olhar mais humano e abrangente sobre o país? Não lhes peço um decodificador, mas espaços mais amplos. Espaços de passagens, espaços de movimentos e de imagens solares como no cinema de Glauber. Digamos que o olhar no cinema, exige sim um renascimento permanente do desejo e da paixão. Uma real disponibilidade para experiências políticas, culturais e artísticas Não sei por que quando vi pela primeira vez as esculturas de Rodin, logo pensei no cinema do Antonioni. Ao ver o cinema de Visconti, penso em Mozart ou no teatro do Tchekov. Essa sintonização é puramente subjetiva. Sou eu e o meu olhar. Olhar o olhar do outro num enquadramento que poderia ser meu.