Memórias 30 O tempo no cinema

15.01.2018

Refazer com as imagens os pontos cruciais de uma velha guerra que se repete sempre: o militarismo histérico! A superfície dos muitos discursos políticos que nada dizem. Também uma ou mais análises do desejo que emerge das proibições da moral/imoral religiosa dominante. O trabalho implicado na brutalização do corpo, servindo só como mercadoria. A ordem como sendo sim o avesso do gozo. A política como dimensão no excesso de fascismos no pobre espetáculo de Golpes de Estado… Diria que o tempo costura tudo, e faz pensar que apesar de todo esse lixo “a arte deve antes de tudo em primeiro lugar embelezar a vida”.É interessante observar o uso do tempo no cinema. Ainda ontem procurado como verdade ou mentira num belíssimo preto e branco do ANO PASSADO EM MARIENBAD. Hoje na estupidificação de uma eterna repetição entre nós: a do Golpe de Estado! Um fraseado bufo querendo fazer parecer que é sério. Mas onde? Um tempo sem história! Talvez a singularidade esteja hoje numa análise do não-tempo. Com certeza pode-se dizer que todos os ditadores se parecem no continente: são bufões! E no que falta um estilo original a fabricação dos marionetes, a excentricidade do ocupante manda! Uma performance da língua sem o corpo. Digamos que a encenação do tempo na nossa política é pobre pois faltam verdades e emoções. E o cinema com isso? Se a obscuridade serve a nossa política, de modo algum serve ao cinema. Sem uma análise do tempo, imagem alguma torna-se história. É preciso saber pensar e fazer! É o saber que dá sim significação ao tempo. A luz forte das pinturas de Van Gogh é diferente do tempo do filme “HIROSHIMA, MEU AMOR”. Supõe-se um encontro inquietante na ficção de Brecht com Godard, com o tempo a polemizar com as imagens explicitamente políticas e não panfletárias, como no cinema de Resnais. Um cinema que mergulha fundo nas profundezas das contradições e agrega no seu processo de análise a descontinuidade histórica como experiência narrativa como linguagem. O tempo nos primeiros filmes de Resnais é sim uma celebração de muitas experiências possíveis com o cinema. E mesmo eu trabalhei muito essa desconstrução da linearidade no “CRÔNICA DE UM INDUSTRIAL” e mesmo no recente “GUERRA DO PARAGUAY”. É tempo de politizar as vanguardas! (para Alexandre Dacosta) Luiz Rosemberg Filho/Rô