Memórias 32 O movimento das imagens

17.01.2018

Para mim, o movimento da imagem corresponde no cinema a uma plenitude da liberdade. E quem usava-o com maestria era a sensibilidade grandiosa de Orson Welles, meu primeiro encantamento na Sétima Arte. Usava o movimento como escultura afirmativa poética, de uma sensualidade quase operística. Tudo poderia ser filmado como se fosse uma tragédia grega ligada a interesses apolíneos e dionisíacos. Ousaria dizer que o movimento interno nas imagens de Welles, é sim o gozo no reconhecimento do belo. O belo como inversão das dores da existência, e do pessimismo frente a certeza da morte. Conceber movimentos com a imagem, é sim vontade de potência, e uma real segurança no universo da incerteza que são os passos e avanços na criação de uma obra de arte. Não que o movimento seja uma obrigação! Mas uma câmera fugidia pode sim ser bela pois traz em si encantamentos efêmeros ainda que descrevendo um mundo e um tempo sem a alegria de viver! Também o movimento das imagens e dos atores, pode ser sim o não-movimento. E aí penso no rígido cinema dos Straubs, que usam bem a fala na imobilidade tanto dos personagens como das imagens. Digamos que a essência do cinema do casal é sim a história da luta de classes com suas tantas contradições. Ora, se o corpo é um espaço/movimento a ser descoberto e amado, por que não a observação analítica da imobilidade muito comum nos documentários sobre personalidades, onde a fala tem mais espaço. O cinema solicita tempos, reflexões e entendimentos. Sendo que aí o movimento é sim um diálogo íntimo com a história e a palavra. Palavra que vem sendo banalizada e prostituída pelo espetáculo, pela TV e pela política pois o desejo do corpo ou das palavras – não necessariamente é o desejo das imagens. Elas podem perfeitamente serem belas e históricas no seu não-movimento. Amo-as na sua procura, e mesmo nas suas indefinições! Ou seja, desdramatizar os movimentos das imagens, me parece um caminho interessante de ser pesquisado e pensado. (p/ Geraldo Veloso) Luiz Rosemberg Filho/Rô- Primeiro texto de 2018!