Memórias 33 O ofício do ator

17.01.2018

Na verdade foi observando o delicado ofício do ator que cheguei na ficção. Me ensinaram a me desfazer dos meus medos, tristezas e certezas. Meu primeiro roteiro (apresentado e perdido a linda Amiris, senhora do Moniz Vianna ) foi uma adaptação para o cinema do “Prometheu Acorrentado”. Na verdade adaptei várias peças que não consegui filmar. Mas sempre pensando em trabalhar com bons atores. Me encantava a magia do encontro do ator com o seu personagem. E vários eram os caminhos na construção de algum sentido, na maior parte das vezes complexos. Queria ter trabalhado com Glauce Rocha, Rubens Correa, Isabel Ribeiro, Paulo Gracindo…. Não consegui! Bem, cheguei ao cinema muito malhado por uma saúde fraca. Anos de dores, confinamentos e de estupidificação de doenças, na época desconhecidas. Foi o mal-estar que me levou a descobrir a potência ilusória do cinema. Belos personagens complexos, luz, movimentos e sons. Tudo parecia não ser só um espetáculo de cores e beleza, mas de expressão da poesia e do belo como afirmação do real. E no espaço dos enquadramento o ator! Atores que me apresentavam novos personagens além da família, médicos e enfermeiras. Da obscuridade da dor, a luz das imagens! Significado e significações complexas. Não era o sonho da família que eu fosse ser cineasta. Queriam para mim vindo de muitas doenças, um ofício mais tranquilo. Entendia-os com suas preocupações e fui adiante sem perder o carinho por meus saudosos pai e mãe. Eu queria trabalhar a ficção! Era e sempre foi o meu sonho. Tarde fui ler Stanislawski, depois o pouco que havia de Brecht e o “Teatro e seu Duplo” do Artaud. Fiz anos de análise com o Dr. Walderedo Ismael de Oliveira, de quem me tornei amigão, findo o sofrido tratamento que muito me ajudou no entendimento da alma dos atores. Durante os anos de amizade falávamos horas sobre a importância do cinema do Bergman. Fiquei impactado com o seu “Morangos Silvestres” que vi muitas vezes no cinema Alvorada no posto 6 em Copacabana. Sigo-o vendo ainda hoje com muito prazer em DVD. Aí descobri Eisenstein, Welles, Antonioni, Visconti, Kawalerowicz, Mizoguchi, Wajda, Godard, Pasolini, Kubrick, Losey, Rosselini, Resnais… A todos devo um pouco da minha formação! E o que mais me marcava nos filmes desses cineastas, eram os atores – todos ótimos! Sorte que fui trabalhar com pérolas negras (raras!) como Echio Reis, Orã, Igor Cotrim, Labanca, Analu Prestes, Nelson Dantas, Renato Coutinho, Ana Miranda, Luthero Luis, Tonico Pereira, Patricia Niedermeier, Ana Abbott, Alexandre Dacosta, Cris Mairink, Jorge Caetano, Otávio Terceiro…. Tenho de todos um pedaço da singularidade solar de cada um. Amo vê-los dialogando em silêncio com o infinito potencial de seus personagens. São mais que atores, mas santos sem religião! (para ANALU PRESTES). Luiz Rosemberg Filho/Rô