Memórias 34 O som

17.01.2018

O som é sim uma celebração de múltiplos encantos não visíveis. Efêmero e fugidio atua numa renúncia a obviedade. Pensar o som, é pensar numa força expansiva da existência da Sétima Arte. Pouco importa se alegre ou triste, é um real instrumento de amadurecimento do cinema. Cinema como estupefação da embriaguez da criação com os poucos que ainda ousam. No nosso cinema, sempre embarreirado por censores e burocratas, ele ainda pertence a lógica ilustrativa de sustentação de certas situações e imagens. Segue havendo um desprezo pelo desconhecido lado da experimentação na valorização do som como ideias. O som como “reserva sagrada” do imaginário nem sempre muito claro, como prolongamento de uma sensualidade ligada a negação, aos entraves da fraqueza humana, muito comum na TV e no cinema de mercado.Infelizmente o som ainda é uma fortaleza escondida no nosso cinema, pois só trabalha mesmo com os conceitos ilustrativos do naturalismo. O som não é pensado como personagem demoníaco, como por exemplo o usamos com maestria na “Guerra do ParaguaY’. Era um som anárquico de caos e guerra moderna. Não queríamos um entendimento imediato, mas um estranhamento direcionado a imoralidade dos conflitos armados. O som resgatando a sua impureza crítica enquanto linguagem das contradições. Como não podíamos explodir espaços e rochedos, o som foi um espaço de devoção ao demônio, pensando no Stones. Ousar novos caminhos foi o que sempre tentei conspirando contra o pegajoso infantilismo do mercado. Mercado sempre existente entre o capital e a TV/Bordel. E nessa pobre viagem sem desejo o mais fácil é viver as peruinhas colloridas, a humilhação, a religião, a prostituição, egos delirantes, a moral/imoral e uma noção de purificação do espetáculo – IDIOTA! O som sempre serviu a esses pobres lamentos cênicos. Pena. (P/Joana Collier) Luiz Rosemberg Filho/Rô