Memórias 35 O figurino

Como seria “Macbeth” ou as duas jovens de “Dois Casamento$” interpretando sem roupa alguma? Digamos, uma ausência total de sentido. O figurino é sim, um ensinamento e uma vontade de respeito aos personagens. O problema essencial do figurino não é ilustrativo, mas de construção pensada dos movimentos cênicos. As duas jovens Patrícia Niedermeier e Ana Abbott estão vestidas de branco, fechadas na mistificação religiosa, pois o casamento religioso já era, são as cerejas do bolo que não aparece. Quando se despem são reconduzidas a uma constelação de afetos onde o corpo é mais importante que qualquer roupa. O corpo como sentido e sentimento de liberdade. E que de certo modo traduz o movimento de crítica ao tediosa/armadura de noivas da mesmice. Ousaria dizer que para mim, o figurino é de certo modo nada mais, nada menos que uma certa identidade das personagens. Uma exposição edificante (quando criativa) de caminhos possíveis. Hollywood gasta milhões de dólares para vestir seus canastrões. Eu trabalho com a limpeza e humanidade de Marcia Pitanga! Seus figurinos usam a crítica como riqueza da sua sofisticação. Marcinha é de uma grande intensidade afetiva e profissional com o seu trabalho. Não é necessariamente uma técnica chata, mas uma doce exposição de um talento muito pessoal onde a roupa/figurino assume uma autonomia crítica da história. Não o figurino como roupa, mas como uma dessacralização de um certo poder do ator sobre o personagem. Ou seja, o importante não é o clichê imposto pelo capital, mas sim a significação analítica da verdade na história das nossas muitas contradições. Assegurando ao outro (no caso o espectador) um sentido doutrinal não simplório ou pedante. Chegará um dia que o cinema será dado nas escolas como formação poética da nossa pobre e empobrecida história. Não claro com esse governo/espantalho, mas como preocupação de uma melhor formação humana. E claro que o figurino vai ser um bom instrumento do entendimento de cada época vivida pelo ser pensante! O figurino é sim uma rica experiência capaz de múltiplas significações. (Para todos os Figurinistas do Cinema Brasileiro). Luiz Rosemberg Filho/Rô