Memórias 36 A música

18.01.2018

Para mim a música é o êxtase de um espaço sagrado não religioso. Portanto um estado de elevação e gozo muito além da “salvação” mística. Ou seja, se a religião é o ápice do risível, a música é sim a salvação da alma com o ser humano assumindo a sua posição como deus. Ora, que deus é possível nas tantas safadezas da política? Entre a grandeza da música e a política existe sim um espaço infinito. E tal abismo faz pensar a responsabilidade de sons e imagens. E a integridade da música é como o sexo: de um sentido ilimitado. Desde os anos de hospital na não-infância sempre amei a música. Mas a clássica que a popular pois me faziam suportar a angustiante imobilidade por anos e anos. Sem exatidão muitas são as minhas paixões que vão de Bach a Eric Satie. E suas complexidades vão muito além do real e da religião restabelecendo um dialogo profundo com a vida e a morte nossa única certeza. Pode ser que deus seja mesmo talvez a música, e não essa sordidez vendida todos os dias pela TV. Amo a música mais que tudo e todos! Bem, no cinema a música não pode servir como sustentação das imagens, mas sim como um personagem amplificador de contradições como queria Brecht: expandindo caminhos e a liberdade dos sonhos! A música é quase uma construção/experimental independente. Tem a sua própria história como no nosso filme “Imagens” mudo, ou mesmo com a música colocada décadas depois pelo talentoso jovem Gustavo Jobim, a partir de uma ideia luminosa do produtor Cavi Borges. Gostei! Ultimamente a música e os ruídos dialogam num vocabulário linguístico original. Compartilham segredos e o filme avança entre a poesia e alegorias. Digamos que não sair cantarolando a música do cinema, é sim uma das tarefas do cinema de vanguarda, pois a história ultrapassa a possível manipulação do encantamento, muito comum no cinema de mercado ou televisivo. Ou seja, a música se tornando o indizível da linguagem de um bom filme. E em não sendo um filme musical, a música deve sim desobedecer a linguagem linear da narrativa da porca telenovela que dopou o país! (Para Carlos Mattos) Luiz Rosemberg Filho/Rô