Memórias 37 Influências
Como negar influências? Ainda mais num cinema banalizado pelo capital, pelo politicamente correto e pelo mercado. Todos três catalisadores de dores e horrores! Talvez sim, a invenção da morte em vida. Não tenho a menor vergonha de repartir meu modesto saber com meus verdadeiros mestres. Não é de modo algum um apaziguamento do fogo, mas sim um investimento poético na desordem e demônios, necessários a criação. Sempre amei o fora da ordem! É o tempero que dá sabor a criação na vida! Hoje aqui, só vejo isso nos poemas do Sergio Santeiro, do Sindoval Aguiar, da Clara de Góis e nos trabalhos políticos do Zé Celso na frente do Teatro Oficina. Ênfase no cinema aos trabalhos da Petra Costa, da Priscyla Bettim, do João Moreira Salles e do José Sette que dão visibilidade a um cinema experimental, raro nos dias de hoje. O capital edificou a indústria da má-consciência que impera da burocracia aos festivais, mostras e exibidores com todos filiados as leis da “nota”! Mas é onde o processo malhado de produção, deixa existir: na má representação do cinema! Não tenho como negar minhas muitas influências que vão de Nietzsche/Camus a Brecht/Godard. De Bach/Mozart a Oswald de Andrade/Zé Celso. De Nelson Rodrigues/Antunes a Tchekov/Antonioni. Amo Artaud, Resnais, Orson Welles, Sade, Buñuel, Matisse, Glauber Rocha, Harold Pinter, Rodin, Rimbaud, Walter Benjamin, Visconti…. Transo bem minhas influências sem me sentir maior ou menor. Influências são sim trocas necessárias pois produzem encontros e pensamentos como valor de gozo! Reconheço no outro minha fala e o nosso sonho de um tempo melhor para todos. Não tenho a menor admiração pelos nossos homens públicos, religiosos ou não. Só sabem dançar a música do capital! E isso vê-se bem criticado no trabalho do Teatro Oficina. Trocar com Zé Celso é um luxo! E mais que isso um aprendizado contra a burocracia reinante. Fui sempre criticado ou proibido por não acreditar em nada que eu não possa ver, falar ou tocar. Mas não me escondi em panelinhas ou grupos: fiz e faço! Amando a complexidade, o proibido e a paixão. Deixo a hipocrisia aos hipócritas! É preciso que se entenda que a criação por ser um ato singular, não pode ser tratada como uma simples mercadoria. Criar talvez seja a única força contra o desencanto com a política. E no que transformaram a política? No Brasil é uma arapuca contra a construção de uma nação! Daí o fora Temer e ainda o gozo/gozar como plataforma das ideias. Nossa herança vem da vergonhosa escravidão e da miséria intelectual para que ajoelhado zelemos e rezamos por uma volta dos valores da Casa Grande! Mas a pergunta: reciclar o lixo humano dá satisfação ou faz gozar? Mas a que tipo de gente? (Para Geraldo Veloso). Luiz Rosemberg Filho/RÔ