Memórias 41 A$SUNTINA DAS AMÉRIKAS
Digamos que a pornochanchada no nosso cinema, é sim a morte assumindo o papel da vida! Não tinha representação, saber, construção ou mesmo gozo. O capitalismo faz jus a essa herança e transmissão pois faturava com isso. Ou seja, com a morte participando da vida! Logicamente que essa sua postura - na verdade recalque - era uma representação cristalizada na mulher objeto de casa, cama e mesa. Era uma espécie de indústria do lixo vendendo carne viva de homens e mulheres enlatadas. E as latas de 35mm amontoadas eram sim pesadas! Enfim, era como o capitalismo fardado sem gozo no saber, demonstrava o seu processo ser transformado em mercadoria de quinta! E na verdade, mais uma espécie de uso vulgar do corpo vendido como artesanato da leviandade. E nesse uso industrial de desvalorização do encontro, do respeito e do afeto a valorização da prostituição e do capital. Ora, o que foram os pornochanchadeiros no nosso cinema? Ridículos! Poucos sabiam pensar ou falar. E quando o faziam era muito uma espécie ainda primitiva de assimilação do capital. Todos os filmes se pareciam! Onde a mulher era só uma mercadoria a ser vendida pelas imagens ruis, e em geral burras! O poder repressivo do regime dava sim autenticidade "cu-cultural" aos "filmes" nivelados por baixo. E elas mercadoria de quinta se deixavam negociar no mercado de carne humana viva para olhos, corações e picas! O projeto de todos era o vil metal. Bem, sobre o referido tema fizemos uma joia chamada "A$SUNTINA DAS AMÉRIKAS". Amei tê-lo feito tal como está: sujo, em alguns momentos sem sincronismo, potente e lindo em sua real liberdade. Claro que a Embrafilme e a censura odiaram! Digamos que as profundezas do humor, da beleza e da liberdade ameaçavam muito mais que os festejos da repressão a quem sempre serviu a pornochanchada e a pornografia. Nosso "A$SUNTINA" virou história e paixão! Seguramente não é exagero afirmar as qualidades excepcionais do irracionalismo bem humorado e poético da atriz Analu Prestes e do ator Nelson Dantas. O par romântico foi muito além do mito instrumental de uma boa relação. Eram anos difíceis, proibiram o filme pelo abuso da suprema imoralidade poética, mas o filme se manteve de pé mesmo proibido pra dentro e pra fora. Amo muito esse trabalho com todos os seus defeitos, e muitas qualidades. Seguiu sendo um filme vivo de resistência! Com saber, humor e paixão. (PS- É O MEMÓRIAS 41. ESQUECI DE BOTAR NO INÍCIO E DEDICADO FILIPPO PITANGA). Luiz Rosemberg Filho/Rô