Memórias 42 Por que sempre a má ideia de que o cinema brasileiro não presta ?

21.01.2018

Hoje hesito muito em ir ao cinema. Nunca fui cinéfilo, e gosto sim de ver a complexidade, a contradição e despudor de filmes nem sempre fáceis. Amo certos diretores, e nunca o cinema como um todo! Ênfase aos diretores que vieram do teatro: Welles, Bergman, Visconti, Losey, Wajda… O que não me impede de amar Godard, Fellini, Pasolini, Rosselini, Glauber, Kubrick, Kazan, Nicholas Ray… Muito raramente fui ao cinema pelo filme, e sim pelo realizador sempre! Busco essência, e não espetáculo. Posso passar horas vendo um só filme como “Imagens do Estado Novo” do Eduardo Escorel sem me preocupar com a passagem do tempo. Como bem diz Paul Valéry: “A retina faz contemporâneas todas as coisas”. E se Shakespeare existiu, por que vou perder meu precioso tempo com determinados cineastas idiotas? Digamos que o tempo de uma pessoa mais velha prima sim pela qualidade do saber, e não do produto/espetáculo só preocupado em faturar. A exibição sempre foi um buraco negro sem fim no cinema brasileiro. Infelizmente nossos exibidores gostariam que aqui fosse Hollywood. Não é e aí é o começo do buraco. Seria muito pedir-lhe respeito e espaço? Não seria possível um diálogo respeitoso e fluente? Por que sempre a má ideia de que o cinema brasileiro não presta, ou tem de ser igual ao outro tão distante das nossas necessidades? Não poderia haver um entendimento afetuoso entre quem faz, e quem exibe? Ir além do desprezo pelo que é nosso não seria mais nobre e interessante? Não existe uma possibilidade de entendimento possível? A obscuridade do “não” , não parece ser uma decisão inteligente. Claro que temos maus filmes, mas os ocupantes muito mais. E que clareza nos trazem os muitos maus filmes deles? Em que na história do mundo a obscuridade é tida como referência? Se hoje temos um país feio e violento se deve muito ao cinema do ocupante com seus filmes/espetaculares de violência gratuita, para um público ainda sem uma formação humana solidificada. Os exibidores não poderiam ajudar a inverter o processo de brutalização com essência das imagens? O que se ganha com só ser um animal? A sala de cinema pode ser sim, um começo de encontros, trocas e subjetividades. O exibidor é parte viva do cinema brasileiro! É preciso que haja entendimento humano, sem que se tenha que recorrer a leis burocratizantes e ao governo! Tentemos por algum tempo, um diálogo que seja bom para os dois lados! O Brasil e o público vão sair ganhando. Tentemos! (Para Helena Varvaki e Manuel Prazeres). Luiz Rosemberg Filho/Rô