Memórias 46 Como posso ser tão complicado nos meus filmes, e tão fácil nesses muitos "PEDAÇOS".

24.01.2018

Desde o surgimento desses “PEDAÇOS” da minha passagem difícil pelo cinema brasileiro, organizados gentilmente pelo crítico Carlos Alberto Mattos, muitos me perguntam como posso ser tão complicado e até mesmo chato nos meus muitos filmes, e tão fácil nesses muitos “PEDAÇOS”? Aliás, ótimo nome para uma possível publicação em papel. Mas a resposta é simples: um pouco como no jazz, faço no cinema muitas improvisações nas imensas possibilidades da linguagem e das imagens. Vou muitas vezes ao espaço visitar Bach, Sade, Rodin, Artaud, Welles, Brecht, Glauber, Matisse, Antonioni…e volto solarizado! Abusando de todos os tempos e caminhos possíveis. O final de “Dois Casamento$”, da “Guerra do Paraguay” e mesmo dos “Príncipes” ainda inédito, confirmam a minha infinita liberdade na construção de um filme. Todos três tinham finais diferentes, e por falta de condições financeiras achei soluções mais fortes e fáceis. Aliás nos “Príncipes” a ideia veio dos queridíssimos montadores. Como não me foi possível ter tido e vivido uma infância como todo mundo, me permito vagar com sons e imagens por tempos e experimentações infinitas. Já nesses “PEDAÇOS” sou mais econômico e vou direto ao ponto! Não me serviria de nada fluir na complexidade! Se já faço isso com o cinema, posso me permitir ser diferente nesses íntimos “PEDAÇOS” de uma vida singular, ainda que ousada e criativa. Posso ser mais querido, ou menos querido nessa minha solidão noturna diante do computador. Inclino-me a crer que sempre fui, e sigo sendo uma multiplicidade de caminhos sem suavização ou perdão aos traidores, que são muitos né? E se como dizia Paul Valéry que: “Os acontecimentos brincam com os nossos pensamentos como o gato com o rato”, por que não posso ser muitos numa unidade de silêncios? (P/ Fernando Oriente). Luiz Rosemberg Filho/Rô