Memórias 48 Já existem muitos mecanismos para que um bom filme sério possa se pagar !

26.01.2018

Foi-se o tempo em que eu era pelo trabalho obrigado a ver tudo! Como ainda era jovem, sobrevivi. No fim do dia andava horas só pelas ruas escuras da cidade do Rio de Janeiro. Vez por outra a embriaguez provocada pela cachaça. Não conseguia entender a farta banalização das mulheres nos filmes comerciais, e muito mais nas pornochanchadas. E eles se multiplificavam como vermes. Vez por outra e muito raramente um poema bem humorado como "BANG BANG". Como era muito amigo do projecionista do INC, me lembro que vi só três vezes direto. Sai nas nuvens com o filme do Tonacci e nos tornamos próximos e irmãos ao longo da vida. Nos dias seguintes a volta aos filmes ruins! Ora, o que leva um realizador a fazer este ou aquele filme não comercial? Penso que em princípio todo filme poderia se pago. Já existem muitos mecanismos para que um bom filme sério, possa se pagar! O realizador não precisa embarcar nos modismos simplórios do mercado. Claro que é mais fácil trabalhar uma comédia idiota da TV, que um filme da delicada Ana Carolina. Vou mais longe, os dois podem se pagar, claro que de maneiras diferentes. Não sou utópico de dizer que tem de se acabar com o filme de mercado. Vão existir sempre seja lá onde for. Mas também não se faz um filme mais pensado e delicado para não passar e não se pagar. Desistir de fazê-lo é jogar sonhos na lata de lixo da história! Agora uma pergunta que sempre me faço: por que um filme feito para o mercado tem de ser rasteiro, fácil ou burro? Não seria o mais fácil optar por uma não-renovação da criação? Claro que são especulações. Não me lembro em que livro do Gogol eu li: "Minha mãe me disse quando eu era pequeno: Se você for , resigne-se de o ser; mas, se por acaso você for inteligente, tente, tente sempre, ser burro". E é muito como funciona o cinema no Brasil! Como se o público só tivesse direito a ver merda! É preciso que o sistema entenda de uma vez por todas que se pode sim, conviver com as diferenças sem que ninguém seja marginalizado ou chamado de fascista! Claro que seria bom que o cinema de mercado fosse "Macunaíma", "Tudo Bem" ou mesmo "Estômago". O resultado final seria muito melhor para o público, e para o próprio cinema. Cinema é antes de tudo um envolvimento profundo com o saber, com os afetos e a vida. Não com o medo, a culpa ou a morte. Como bem diz Chin-Tao-Wu em seu livro 'A Privatização da Cultura": "...o capitalismo foi, e ainda é, construído sobre formas de imperialismo, em que a multinacional de hoje é o equivalente ao antigo construtor de impérios". Ou seja, de nada serve ao Brasil, a nossa ocupação por esse império do mal. E também globalização sem a presença do pensamento, do respeito ou do humano - é sim exploração cultural e econômica conservadora. E isso tem levado nosso cinema a quê? (P/ Weronika J.J. Blair) Luiz Rosemberg Filho/Rô