Memórias 58 O teatro no cinema

31.01.2018

 Sempre gostei muito de pensar o teatro no cinema. No mistério existente entre a encenação no palco, e as filmagens em direção aos encantamentos e tristezas da vida. No cinema o texto é uma espécie de metafísica instantânea do ator assumindo improvisações e solarizando o seu personagem com cores fortes ainda desconhecidas. No teatro toda percepção do texto é de certo modo necessariamente fluente e linear como vivemos em “Dois Casamento$” no teatro. No cinema a diversidade das opções são infinitas indo-se do plano detalhe ao geral, mesmo sem cenografia alguma. Diria que o teatral “é a alma que se aperfeiçoa”. Já no cinema são os instantes vividos de fortes intensidades poéticas. Ou como bem diz Baudelaire em “Mon Coeur Mis À Nu”: “…senti no coração dois sentimentos contraditórios: o horror da vida e o êxtase da vida”. Talvez uma ótima dica para a formação de um bom ator! A solidão do ator no cinema é estar sempre em recomeços nem sempre muito palatáveis. Penso também ser possível fundir a grandeza do teatro nos muitos instantes vivos no cinema. Criar ficções poéticas a partir de Sófocles, Tchekov, Strindberg, Brecht, Camus… Eu vi isso muito bem resolvido em belas encenações de Losey, Straub e mesmo na última fase do Alain Resnais. O teatro tem muito a contribuir para um cinema menos espetacular e mais profundo. Então que se use mais o lado sagrado sem religião do teatro no cinema. Os dois podem sair ganhando pois o infinito passa a ser a grande referência da criação. Tentemos! Luiz Rosemberg Filho/RÔ