Memórias 63 Joaquim Pedro

04.02.2018

Sempre tive muito carinho e respeito pelo cinema de Joaquim Pedro. Nos encontrávamos muito na praia em frente ao Hotel Sol de Ipanema, onde ficavam quase todas as cabeças pensantes do Rio de Janeiro. Falávamos das nossas esperanças de um Brasil melhor com espaço para todos! Gostava do rigor dos seus filmes e amava, e ainda amo o seu “Os Inconfidentes”. Bem, a podridão afetiva do cineminha oficial ou a banda podre do nosso cinema nunca entendeu eu ter lhe dedicado o nosso “Crônica de um Industrial”! Mas foi o Joaquim quem foi brigar com os burocratas na Embrafilme, pela finalização do nosso furioso e bem humorado “A$suntina das Amérikas”. Me pediu para ter calma e conseguiu juntamente com a doce Ruth Albuquerque e o Dario Correa a liberarem um dinheirinho ridículo como avanço de distribuição, para a finalização do nosso filme. E nem éramos tão próximos! E ainda chamou a preciosa Analu Prestes para contracenar com Lima Duarte no seu bem humorado e corrosivo “Guerra Conjugal”. Joaquim era uma pessoa ímpar! Nem um pouco arrogante, ou se sentindo dono da verdade. Quando viu o “A$suntina” pronto me agradeceu pela ousadia e postura de todos. Claro que os burocratas e a censura odiaram! Embora eu gostasse muito de “O Bravo Guerreiro” do Gustavo Dahl, que também escrevia muito bem, odiou o nosso petardo Oswaldiano! Pena. Passamos décadas sem no falar. Já naquela época queriam o espetáculo da imbecilidade televisiva! Nosso “A$suntina” era ousado, impuro, sujo, imperfeito e anti a imundice do cinema fosforescente do grande capital! Era sim, uma crítica corrosiva à pornochanchada. Chegando a Brasília sem nenhuma cobertura da Mídia prenderam o filme para dentro e para fora do país. Não era a tão cultuada pornochanchada, e muito menos o novelão televisivo. Voltando a Joaquim, dediquei-lhe nosso filme seguinte pela sua força dada ao nosso queridíssimo “A$suntina”! Para mim o “Crônica de um Industrial” foi a minha entrada no bode da vida adulta. Cá entre nós, um saco! Ao vê-lo numa exibição no Méridien em que estavam quase todos do bom cinema brasileiro, me chamou num canto mais afastado e me perguntou o por quê da dedicatória? Resposta: – Pela sua defesa na Embra do nosso “A$suntina! Ele riu timidamente e falou: ” – Agradeço estar na dedicatória desse filme pesadão, mas prefiro seu bom humor do “A$suntina”. Ri, concordei. Não tinha como não concordar. Joaquim tinha a delicadeza de uma dama e era um bom mulherengo. Pena ter partido tão cedo. (P/seus três filhos Maria, Antonio e Alice) Luiz Rosemberg Filho/Rô