Memórias 66 Continuamos atrelados à carroça da exploração e do atraso.

06.02.2018

Vivemos todos na verdade a implosão de todos os sistemas. E como exemplo as guerras, a política da crueldade, a fome em pleno século XXI, a TV, a prostituição, a religião, as muitas incursões no sacrifício e por fim a morte! Projetam-nos como sendo a única doença do século. Sempre achei o poder um exercício de porcos bem nutridos e perfumados. Como representam uma casta, vão pateticamente apodrecer com arrogâncias e certezas, difundindo intensivamente o que nunca foram: HUMANOS! Mas precisamente por isso recebem do povo despreparado e alienado uma intensificação de espaços para imporem a crueldade como derrocada do sublime ato da criação. Claro que se vive melhor hoje que na Idade Média. Mas a vida/vivida para muitos continua sem “nenhuma sublimidade”. Continuamos atrelados à carroça da exploração e do atraso como razão de ser da existência. Bem, nunca fui uma pessoa fácil ou comum. Sempre curti um número limitado de amigos, e não faço questão de ser supérfluo ou gostado por fazer cinema. Gosto muito de gostar, mas não sou pipoca pulando de um lado para o outro. O surgimento do sensível no outro me diz muito mais que as ilusões cênicas do “sucesso” fácil como na TV. A sociedade do espetáculo não me diz nada. Odeio vazios, distâncias ou narcisismos. Amo dúvidas e indefinições. Através do cinema cheguei a pessoas muito queridas. Reconheço a importância dos atores com quem infelizmente nunca consegui trabalhar. Por exemplo: Glauce Rocha, Oscarito, Grande Otelo, Dina Sfat, Othon Bastos, Paulo Gracindo, Nelson Xavier, Bianca Byington, Silvia Buarque, Jardel Filho… Mas também trabalhei com pérolas raras, tanto como atores, como com técnicos. Poderia ter ido mais longe se não fossem os Anos de Chumbo de ontem e de hoje. Verdadeiramente fui salvo da loucura pelas mulheres que amei. Umas mais, outras menos. Lamentavelmente não nos ensinaram a poesia do amor! Chegamos todos nele meio como bichos. Também sempre odiei o lado desumano e espetaculoso da religião e seu apego ilimitado ao irracional. A grandeza e essência do gozo sempre me disse muito mais. Por isso mesmo não é fácil. Exige magia, encantamento, ilusão, música, fantasia, o brincar, sonho e uma percepção do sagrado muito além da religião que empobrece vidas, encontros e afetos. Pena. A natureza interior do ser humano é rica e pouco explorada. O corpo só existe para ser explorado, e não para ser amado. Não o corpo como objeto, mas pensado! É o corpo pensado que produz o movimento e o gozo. Gozar como uma renúncia à ordem! Uma reconciliação com nossos demônios. Schopenhauer sabiamente dizia: “Meu corpo e minha vontade são uma só”. Isso significa que podemos ser muito mais do que somos. Ou seja, somos sim Deuses! Deuses que podem ser gostados, tocados, amados e que gozam. O gozo como representação do humano, e da sua liberdade! E não é melhor que viver medos, traumas e angústias? Pensemos. (P/Patrícia Niedermeier pelo dia do seu aniversário) Luiz Rosemberg Filho/Rô