Memórias 70 Tanto o Brasil como a chanchada poderiam ter sido trabalhados melhor
Quando o país tem lá seus surtos de anomalia política, volta-se a pensar num passado idealizado e não real. O real foi sempre desigual, pobre, podre e brutal com pouco ricos de um lado e muitos pobres e empobrecidos do outro. É onde o país parece que vai gozar! Tenta-se conviver bem com isso, como se não fosse um problemão! E para se evitar confrontos naturais temos o circo político fortemente armado com a religião e a TV que ao permanente mentir e espetacularizar as suas mentiras amanteiga nossas muitas contradições. Seguem vendendo o Brasil como sendo “uma ilha de tranquilidade”! Mas é mesmo? Onde? E entre as tantas contradições que voltam no nosso cinema, a discussão infinita sem muitas novidades da importância ou não das chanchadas! Bem, fora o seu valor de comunicação com as camadas populares inquestionável pois trazia público e dinheiro mais para os exibidores e produtores, pra que mais serviu? Na mais amarga verdade não se queria mexer em nada! E os “realizadores” sem voz autoral nenhuma, eram sim escravos dos exibidores, produtores e distribuidores. Talvez o mais independente fosse o Mazzaropi dono acho que da Pan Filmes. Um dia conversando com ele no INC, me disse que fazia seus filmes para o público que ele já havia conquistado, Perguntei-lhe se ele não tinha algum interesse de melhorar o saber do seu público, e ele me respondeu na “lata” que isso era obrigação do Ministério da Educação, e não dele! Me lembro bem que falei-lhe do nosso Martins Pena como sendo uma referência possível de ser pensado e filmado, e ele me respondeu que o seu público gostava era do Jeca Tatu! Tempos depois fiz uma longa entrevista com Lulu de Barros na sua casa em Copacabana, que me disse quase a mesma coisa só que com outras palavras. Não sei bem se o Brasil era a chanchada, ou a chanchada era o Brasil! Mas me permito achar que tanto o Brasil, como a chanchada poderiam ter sido trabalhados melhor. Vide a genialidade do Teatro Oficina com “O Rei da Vela”. Eu mesmo fiz o “A$suntina das Amérikas” e o “$anto e a Vedete” inspirados na chanchada e no circo! Quis filmar o “Senhora dos Afogados” num picadeiro de circo e o Nelson disse não! Nem por isso deixei de achá-lo genial. Claro que o cinema precisa do público! Mas o público não precisa do cinema pois tem outras prioridades. Apenas acho que tanto a chanchada como o país poderiam ser melhores. E ser melhor é aproximar o público de maneira sensível e inteligente. Também me permito achar lamentável que alguns para defender as chanchadas, precisem criticar o Cinema Novo de maneira simplória e raivosa. Nunca fui Cinema Novo, nem nunca quis ser! Mas não se pode negar a sua importância cultural. Goste-se ou não acho essa picuinha burra, maléfica e sem grandeza alguma. Passa bem mais ressentimentos que verdade (P/ a memória Oswald de Andrade). Luiz Rosemberg Filho/Rô