Memórias 71 Meu encontro com Manoel de Oliveira na cinemateca de Lisboa.
O cinema me levou a espaços e pessoas muito interessantes. Nem todas simpáticas mas… Estava em Lisboa me recuperando de um acidente na mão esquerda vivido em Paris. Por pouco não perdi alguns dedos da mão esquerda. Meu pequeno quarto de hotel de meia estrela ficava muito próximo da velha cinemateca dirigida pelo Luis de Pina. Não me lembro mais quem foi que me mandou procurá-lo, mas acho que foi o Novais Teixeira. Pina sempre me foi muito simpático e solícito. Nos demos bem. Eu queria passar o nosso “JARDIM DAS ESPUMAS” para que alguns amigos o visse. Num dos encontros com Pina sempre na cinemateca, ele me apresentou o Manuel de Oliveira. Convidei-o para exibição poucos dias depois, e ele foi extremamente duro! Me disse que tinha vindo de um Festival ou Mostra do Brasil e que as pessoas tinham lhe pedido para colocar legendas em seus filmes. E ele estava danado pois as bostas das novelas brasileiras, passavam lá na TV, e nunca ninguém havia pedido para colocar legendas! Disse-lhe que o nosso português era diferente, mais aberto, cantado e portanto mais fácil de ser entendido. Ele não aceitou a explicação que foi até bem demorada e não veio ver o filme. Pena. Me permiti achá-lo sem nenhum humor e meio pedante. Falei ao Pina o que eu tinha achado, e ele muito educadamente me convidou para ver numa das tardes seguintes um filme que na época me encantou chamado “CONVERSA ACABADA” do então ainda jovem João Botelho. O filme era sobre a correspondência entre o Fernando Pessoa e o Mario de Sá Carneiro. que morava e morreu tomando cicuta em Paris! Foi uma maneira simpática que o Pina encontrou para eu não sair magoado com Lisboa! E foi também que eu fiquei sabendo que um jovem cineasta argentino Jorge Cedron que eu havia hospedado em casa no Brasil, havia sido assassinado pela ditadura portenha. Foram anos difíceis para o nosso continente, e a única coisa que me lembro das nossas muitas conversas era a sua grande paixão pelo cinema do Antonioni que nós amávamos. Eu sigo-o amando e tentando editar um livro já traduzido, com várias entrevistas com ele. Chama-se “ARQUITETURA DA VISÃO”. Quem sabe hoje a editora AZOUGUE não o edita? (Para Manuel Prazer) Luiz Rosemberg Filho/RÔ