Memórias 72 Aos 74 anos ainda sonhando, mas já sem nenhuma fantasia de um pais melhor.

13.02.2018

Vendo novamente o país mediocrizar-se volto a pensar na morte mais próxima que distante. Infelizmente não vejo substância alguma na estupidez em que conseguiram transformar o Brasil. À minha frente ouço e vejo muitos discursos e imagens que nada dizem. E que tentam eternizar velhas retóricas do fascismo sempre presente na vida do país, e mesmo do continente. Eis aqui, a minha fadiga declarada! Nunca acreditei na plenitude da mentira. Também não acredito em ressurreições. E tudo vai caminhando para o pior: dores, remédios, cansaço, velhice… Mas há algo em mim que me ultrapassa: minhas muitas dúvidas! O peso de um pensamento pesado correto submerso! E por acaso os sistemas existentes deixam sonhar? Deixam fazer? Deixam criar? Digamos que minha plenitude foi ser imperceptível aos movimentos do fascismo de ontem e de hoje. O senhor Temer e sua quadrilha são o quê? Existe transparência política no velho e novo Golpe de Estado? Política de seres odiosos. Dessa inércia miserável de país, a impotência e muitos abismos. Digamos, uma total ausência de meus muitos sonhos. Remexendo velhos papéis engavetados encontro fotos de filmes feitos. Foram momentos captados ao acaso pelas imagens. Muito raramente estou presente, o que me permito achar até bom. Tento voltar aos momentos captados, e não consigo mais me lembrar. É a velhice. Entristece-me o esquecimento. Mas talvez a grandeza do esquecimento seja a magia do tempo que nos faz avançar em outras histórias, encontros e sentimentos. Penso ainda ter tempo e forças para ler muitos livros que não li. A lama do cinema pesa! E pesa fundo, ainda mais não querendo ser peteca ou traíra. Ontem disfarçado, servil ao golpe de 64 fazendo filmes idiotas. Hoje na TV na marcha para o fascismo! Teu esforço intelectual foi sempre medíocre. Enganava com as palavras e faturavas com as imagens ruins ou fracas. Fostes sim, um soldado desconhecido a serviço da morte! Claro que nada visível! Retenho em mim cicatrizes de muitas derrotas. Essa minha estrangeiridade me salvou de não ser igual, nem comum. Fui ousar no desinteresse das ideias fazendo filmes que foram proibidos ou humilhados. Mas que resistiram! Não deixo nada inacabado, e fiz muito! Enfim fiz o que pude em profundidade do nada! Eis-me aqui aos 74 anos ainda sonhando. Mas já sem nenhuma fantasia de um país melhor. Pena. (P/Paulo Mendonça) Luiz Rosemberg Filho/Rô