Memórias 74 Fico com os artistas, suas poesias e possibilidades infinitas.
São tantas andanças, perguntas, respostas e silêncio que muitas vezes esquecemos o movimento do nosso próprio pensamento. Mas me lembro que um dia não sei mais se num festival ou num debate uma jovem muito bonita colocou e perguntou: “D. H Lawrence dizia: Nunca acredite no artista, acredite na narrativa”. Você concorda com tal afirmação?” Pensei algum tempo em silêncio e respondi: “- Em não sendo uma colocação fascista como: A ditadura errou em torturar e não matar”, tendo a aceitar com ou sem crítica todos os pontos de vista. Lawrence devia ter seus motivos para acreditar mais na narrativa que nos artistas. Eu apesar de todo desencanto vivido no país, não cheguei a tal descrença, e ainda acredito que todo e qualquer verdadeiro artista segue sendo um escultor de encontros, sonhos e afetos. Ou seja, não se escreve um poema, se pinta um quadro ou se representa bem “MACBETH” para ser poder. Seria pobre demais né? E sim para tentar melhorar a vida. Torná-la mais bela. Penso que a máquina ainda não pode fazer isso, mas o ser humano sim! E justamente o poder que concentra uma infinidade de golpistas, ratos e porcos, é que de certo modo nos impede a todos do lado poético, criativo e afetuoso da vida. Não querem seres humanos pensando no humano, e sim monstros moralistas atados em religiões, partidos, meios de comunicação e na verdade novos censores militando no mal. Querem uma permanente representação do horror, e não dos encontros e afetos ainda possíveis. E então no lugar da poesia de um gozo potente e prolongado, a guerra ao humano lado da vida. Fico com os artistas, suas poesias e possibilidades infinitas. O artista ou criador trabalha o inacabado, a impureza, as incoerências, as dúvidas, as sombras, o disperso, as impossibilidades, os silêncios, a danação e as errâncias interrompidas pelo fim! Morre-se né? Precisava falar mais? (P/Caio Lazaneo) Luiz Rosemberg Filho/Rô