Memórias 75 O humor
Nunca ostentei um uso da minha grave doença na infância. Sempre lutei muito pela vida apesar de ter tido pai e mãe, melhores impossível! Tudo foi muito duro para todos. Sempre me alimentei de sonhos sem a certeza de nada! Não sei como consegui trabalhar com ajuda da análise os tantos horrores que caíram sobre a minha vida: dores infindáveis, operações seguidas, o tédio dos hospitais, a longa imobilidade, os tratamentos, o vazio… Na época não entendia o porque de tanto sofrimento! A tragédia eu a vivia no próprio corpo sendo manipulado por mão estranhas. O humor fui buscar nos textos teatrais e anos depois no cinema de Chaplin, o Gordo e o Magro, Tati… E depois nos Irmãos Marx e no Buster Keaton. Amei e amo a todos! Vejo-os sempre! E então como escolher entre a comédia e a tragédia? Amo as duas vertentes com a mesma intensidade. Como não amar o “DR. FANTÁSTICO”, “MEU TIO”, “8 1/2” “”GAVIÕES E PASSARINHOS”, “FALSTAFF”? Como não amar no cinema tragédias como “O LEOPARDO”, “ACCIDENT”, “”UMBERTO D”, “PERSONA”? Eu mesmo já trabalhei a comédia no clássico “A$SUNTINA DAS AMÉRIKAS”, como a tragédia no “CRONICA DE UM INDUSTRIAL” e no mais recente “OS PRÍNCIPES” ainda inédito. Tanto gostaria de filmar “ÉDIPO EM COLONO” como “O TEATRO CÔMICO” peça pouco montada do Goldoni. Digamos que as tragédias são demolidoras de sonhos. Não ficando pedra sobre pedra. Já as comédias são pequenas e grandes revoluções possíveis. O estranhamento na linguagem das comédias fazem-nos rir, mas também pensar. Debruçar sobre a comédia é revelar o proibido com humor e crítica. O humor é sério; não esqueçamos Molière, Martins Pena, Oswald de Andrade e mesmo Corpo-Santo! Rir nos libera para rir da nossa mal parida classe política onde o rei está sempre nu, numa permanente volta ao exercício do atraso. Pena. Luiz Rosemberg Filho/Rô