Memórias 153 Será que estive no ANO PASSADO EM MARIENBAD

12.06.2018

Sempre gostei de trabalhar a desconstrução das certezas. Mergulho em rastros, dúvidas, rabiscos, livros, documentos e espaços. Minha inquietude está registrada nos muitos roteiros feitos ao longo da vida, na força das imagens e na exposição de confrontos. Sem exatidão me ofereço aos espectadores, construindo sonhos! Sonhos como expressão de exacerbações poéticas que me fazem avançar. Mesmo trabalhando em filmes menores. Ainda ontem embrenhado no poético e radical JARDIM DAS ESPUMAS que me conduziu ao silêncio do IMAGENS. Silêncios e ausências da civilização do medo. Nem Marx, nem Freud mas o Brasil solar do A$SUNTINA DAS AMÉRIKAS! Jamais aceitei ou aceitamos o papel de vítimas. Da minha parte um desapego real a ordem e o progresso de obsessão do injusto como justo! A má fé das muitas traições como desejo erótico da salvação pela religião. E muitos foram os dilaceramentos dos corpos sem prazer. Infelizmente aqui, os tempos só aproximam as traições e os ódios. Como sabiamente escreveu Artaud numa das suas muitas cartas: “O corpo humano tem suficientes sóis, planetas, rios, vulcões, mares e marés para não precisar ir buscá-los na suposta natureza exterior e do outro”. Esgotamos nosso estágio do mal-estar no fascismo das muitas traições e gerações. Fomos para uma politização profunda da consciência. Aprendi com o CRONICA DE UM INDUSTRIAL o lado hipócrita do mundo adulto. A asfixia da traição na eternidade! A traição como a única linguagem possível do poder. Bestas sem lado no capital para poucos. O charlatanismo do ilusionismo político sem representação humana alguma. Tudo e todos lembrando um circo de aberrações. E o meu cachê nunca foi pago! O produtor massa bruta e burro se caga de medo de ser processado por seus velhos funcionários/escravos na desrazão dos eletrocheques sem fundo. Enrolar e enganar sempre foi mais fácil e o sistema até aprova e aplaude dançando nas ruas com a camisa da seleção. Como diz magistralmente a poeta Sophia de Mello Breyner Andersen: “A minha vida está vivida/ Já minha morte prepara/ seu pó de beladona/ Viajarei ainda para me despedir das imagens/ Antes de despir a túnica do visível”. Me deixo levar pelo tempo desligado de mim mesmo. Será que estive no ANO PASSADO EM MARIENBAD ? (P/ Cristininha Amaral) Luiz Rosemberg Filho/Rô

Cristininha Amaral