Memórias 186 Entrevista concedida a um grupo de jovens para uma revista que não vingou
“ Se descreves o mundo tal qual é, não haverá em tuas palavras senão muitas mentiras e nenhuma verdade.” TOLSTOI
“POR UMA ADEQUAÇÃO AOS AFETOS PROIBIDOS” em memória de JAIRO FERREIRA
1 – Gostaria que o senhor falasse da sua convivência com as pessoas do Cinema Brasileiro.
R – Sempre fui meio bicho do mato, e por isso mesmo me relacionei com muito poucas pessoas. Detestei sempre clubinhos fechados, patotas e panelinhas. Muito próximos e queridos eu só poderia falar do Tonacci, do Santeiro, do Mário Carneiro, do Sindoval Aguiar, do Ricardo Miranda, do Matico, do José Carlos Asbeg, do Joel Yamaji, do Pedrinho de Moraes, do Fabio Carvalho, da Isabel Lacerda… Lá fora me aproximei um pouco mais do Glauber, com críticas de ambos os lados. Ele não gostava dos meus amigos, e eu lhe respondia “na lata” que ele tinha também alguns amigos sem um mínimo de talento criativo, e que eu também não conseguia gostar. Até tentei algumas décadas depois a pedido dele lá no passado uma aproximação, mas não consegui. Nunca foi uma relação possível, e meus amigos me mostraram bem isso. Foram sempre nocivos para o cinema de Invenção. Porcos! Errei em defendê-lo, né? Por outro lado sempre gostei muito do Joaquim Pedro de Andrade, do Nelson Pereira dos Santos, do David Neves, do Eduardo Coutinho, do Paulo Cesar Saraceni, do Maurício Capovilla e do Leon Hirschman, quando os encontrava aqui e ali. Eu passei muitos anos brigado com o Gustavo Dahl, mas sempre gostei muito do seu “Bravo Guerreiro”, e mesmo do “Uirá”. Quase no final da sua vida ele me procurou, e voltamos a falar. Ao Joaquim Pedro, eu dediquei-lhe o meu “Crônica de um Industrial”, por sua luta com a Embrafilme para conseguir um avanço (um dinheiro ridículo!) pela distribuição do “A$suntina das Amérikas”. O filme já estava todo rodado e montado. Precisava de uma grana para dublá-lo. O Joaquim era um ser único, e muito criativo. Sabia ousar sem abrir mão da sua necessária comunicação com o público. Poderia também falar da importância que tiveram na minha vida a Glauce Rocha, o Mário Carneiro, o Pedrinho de Moraes, o Antonio Muniz Vianna, o Jaime Rodrigues, o Sindoval Aguiar… Depois pessoas como Renaud Leenhardt, Marta Luz, Analu Prestes, Antonio Luis Soares, Wilson Grey, Sandra Adms, o Jorge Bouquet, o José Carlos Asbeg, o Luiz Egypto, Aninha Miranda, David Neves, Novais Teixeira, Mara Ache, Mario Alves Coutinho, Paulo Augusto Gomes, Jairo Ferreira…e possivelmente outros que não estou lembrando, como por exemplo o Omar de Barros Filho (o Matico) do jornal VERSUS e do VIA POLÍTICA. Há todos eu devo um pouco do meu crescimento e amadurecimento como ser humano.
2 – Em que circunstâncias você conviveu com o Glauber, e como se recorda dele hoje?
R – Nossas primeiras conversas foram na praia de Ipanema. Fomos nos aproximando pouco a pouco. Ele sempre foi um vulcão em permanente irrupção. Não era uma pessoa fácil. Estava sempre inquieto e insatisfeito. Acho que se tivesse se permitido fazer uma boa análise, eu não tenho a menor dúvida de que ainda estaria entre nós. Mas mesmo falecido ainda na flor da sua maturidade, continua sendo clássico, moderno, insuperável, gênio com uma visão dialética-criativa não só dessa nossa terrinha, mas planetária de diversos ângulos. Não o vejo ingênuamente, como histérico ou neurótico, como achavam muito dos seus “coleguinhas” sem talento algum. Foi uma complexidade soberba na sua nudez teórica. Ousou não ser um idiota das Academias! Como um pássaro faminto de beleza, foi sempre avassalador como teórico. Depois da sua morte nosso cinema empobreceu e apodreceu radicalmente. E talvez tirando a garotada que tá chegando não aliada as velhas Múmias sem talento, restam da “Velha Guarda” o Tonacci, o Santeiro, o José Sette, o Geraldo Veloso, o Capovilla, o Paulo Augusto Gomes, o Joel Pizzini, a Ana Carolina, o Nelson Pereira dos Santos, o Eduardo Coutinho, o Ruy Guerra, o Capô e mesmo o Jabor que tem algumas obras fundamentais como “O Circo”, “Opinião Pública” e “Tudo Bem”. O resto são para mim, trabalhos menores.
3 – Aqui, há bons críticos ou ensaístas preocupados com o Cinema de Invenção?
R – Vivos, tem alguns. Da Velha Guarda tem o Fernão Ramos, o Leonardo Carmo e o Rubens Machado. Jovens tem o Fabio Carvalho, o Renato Coelho, o Joel Yamaji, o Rodrigo Fonseca, o Daniel Caetano, o Carlos Mattos… Creio que ser um crítico da experimentação não é nada fácil pois não é um cinema que lida com bolinhas, estrelinhas e bonequinhos. É um cinema autoral, plástico, ousado, antropofágico e onde a encenação se processa através de uma inquietação positiva do público. Não vai ser nunca um fast-food de cocô. Uma xícara de chá com xixi. Ou um prato de sangue coagulado. Ou seja, não é um cinema de armação patronal e sim de confronto. Um cinema que se reconstrói o tempo todo. O que implica até em ter filmes ruins. Mas nunca trairas ou canalhas defendendo até a polícia. Nem no Nazismo se viu isso! Mas aqui, como é terra da pilantragem – vale tudo! O que importa é faturar, enganar e criar novas formas de escravidão que mascare a exploração do cinema patronal. Um cinema sem interesse algum no saber e na reflexão.
4 – De algum modo te afeta nunca ter feito um filme de sucesso comercial?
R – Ora, se fosse essa minha única preocupação não teria feito trabalhos experimentais como “O Jardim das Espumas”, “Imagens”, “A$suntina Das Amérikas”, “Crônica de um Industrial”, “Videotrip”, “Guerra$”, “Uma Carta”, “Afeto”, “As Últimas Imagens de Tebas”, “O Discurso das Imagens“, “A Farra Dos Brinquedos”… sem dinheiro público algum, na produção! Mesmo “O $anto & A Vedete” que era para só ser um filme de encomenda pornô, o trabalhamos como se fosse uma peça do Martins Pena, ou mesmo do Brecht. Lembro-me bem de um texto do Ezra Pounds, que diz: “Se nunca escrevermos algo a não ser o que já está compreendido, o campo do entendimento jamais será ampliado. Demanda-se o direito, agora e novamente, de escrever para uns poucos com interesses especiais e cuja curiosidade penetre em maior detalhe.” Sempre defendi também, que era possível se ganhar dinheiro sem se prostituir. Sem embarcar na trip do espetáculo pelo espetáculo, ou na cafetinagem da violência. Mas pode-se também argumentar que o lixo humano e cultural saiu vitorioso com a ajuda do Golpe civil-militar de 64, e mesmo da Abertura. Mas já aí, cansamos! Não temos mais 20 anos, e o país só piorou. Minha geração esperava um pouco mais do país e da política. E o que se vive é uma dolorosa repetição de passados, só que com a farda civil! A tortura agora chama-se partidarização obrigatória e burocracia! O voto também não é obrigatório? E isso lá é Democracia? O nome disso é o engana que eu gosto! Mas é o tal do show do “relaxa e goza” da atual ministra da cultura. Me creia, prefiro pensar na poesia de Rilke, na música de Bach, no teatro do Brecht ou no cinema do Bergman. É um outro tipo de inquietação mais substancial, que as tantas “certezas” da política. E no que foi que transformaram a política? Num longo crepúsculo de ódios e perseguições que vem desde 64, sem mudança alguma. Mas como bem diz o amigo Sindoval Aguiar numa de suas poesias fantástica: “Falta-nos uma cultura criativa/ Do humano/ Sobra-nos uma cultura produtiva/ Da ignorância/ Do dinheiro/ Da religião/ Da aderência/ Ao Desumano.” Perfeito, né?
5 – O senhor que tem um cinema tão cheio de referências e palavras, nunca pensou em adaptar uma obra literária?
R – Meu primeiro roteiro, infelizmente perdido pela senhora do amigo Muniz Vianna, foi uma adaptação para o cinema de “Prometeu Acorrentado”. Depois adaptei “Noite” do Erico Veríssimo, que já havia vendido os direitos para uma televisão americana, que não o filmou. Depois adaptei “Macbeth”, e na Europa “Coriolano” ambos do Shakespeare. Por fim adaptei uma comédia do Martins Pena chamada “O Diletante”. Claro que para nenhuma dessas adaptações eu consegui levantar dinheiro. Desisti! Mas gostaria hoje de filmar “Angústia” do mestre Graciliano. O “Serafim Ponte Grande” do Oswald de Andrade. “Ivanov” do Tchekov, “Quando Despertamos Entre os Mortos” do Ibsen. “O Banquete” do Mário de Andrade”. “Os Convalescentes” do Zé Vicente… Mas, gostar é uma coisa, e conseguir é outra. Nosso cinema ficou muito pobre, vulgar e imediatista com a entrada da TV que o prostituiu. Pena. Hoje só se investe no lixo de cada mídia, que reflete bem o lixo em que conseguiram transformar o cinema e o país. Não se suportava e não se suporta ainda, a Invenção! Aqui ainda reina o mal-entendido das idéias. Aqui só se obedece. E… o Estado que tem medo da criação, já apodreceu. Fede a sangue apodrecido e a merda!
6 – O cinema que você fez e faz, hoje com o digital, dialoga com outras formas de arte?
R – Eu venho como amador, das artes-plásticas como terapia; e de uma grande paixão pelo teatro do Tchekov, do Artaud e do José Celso Martinez Corrêa. Se tivesse tido mais tempo gostaria de ter aprendido piano pois amo Bach, Chopin, Debussy e Satie. Sempre que posso uso Rodin no movimento terapêutico das Colagens. Na literatura como não reverenciar “A Morte de Virgílio”, “A Montanha Mágica”, “Metamorfose”, “Bodas em Tipasa”, “A Origem da Tragédia”, “As Flores do Mal”, “Uma Estação No Inferno”… Digamos, eu me permito dialogar com vários segmentos que me possibilitam amadurecer e crescer como um ser humano melhor. E de certo modo meu cinema reflete todas essas referências. Claro, sem esquecer Van Gogh, Orson Welles, Matisse, Antonioni, Villa-Lobos, Glauber, Luchino Visconti… Penso então em Edgar Allan Poe que dizia: “ Muitas pessoas já me caracterizaram como louco. Resta saber se a loucura não representa, talvez, a forma mais elevada de inteligência.” E é muito por aí que eu passo com o meu cinema. Não pela loucura, mas pela liberdade da poesia.
7 – E em que medida o teu cinema dialoga com o Cinema Novo, e de Invenção?
R – Digamos, no “Jardim das Espumas” eu dialogava com “A Selva Das Cidades” do Brecht, montada pelo genial Teatro Oficina. No “Crônica de um Industrial” dialogava com “Terra em Transe” e “O Bravo Guerreiro”. Com o “A$suntina” era um diálogo vivo com o cinema do Tonacci, do Santeiro, do José Sette, do Geraldo Veloso e mesmo do Rogério. Mesmo com o “$anto” o diálogo era com o cinema do Joaquim Pedro de Andrade. Através de uma soma de influências consegui com pouca concessões, fazer um cinema alimentado e constituído de uma legítima estranheza criativa. E totalmente despido de um mínimo de arrogâncias. Fiz um cinema experimental-musical dançante, contaminado por uma solaridade dos afetos bem humorados. E se não foi melhor, foi mesmo por falta de dinheiro. Com mais de 40 trabalhos feitos, nunca recebi um só financiamento público! Vale apena continuar votando na mesmice?
8 – Na sua opinião, por que a experimentação ou invenção, nunca foi bem recebida pelo público?
R – Ousaria dizer que o nosso público foi burrificado pela ditadura do Estado Novo, pelo Golpe de 64 e dopado pela TV que é usada como arma de alienação coletiva. Com essa excessiva carga de enfermidade, de obscuridade e de clichês, como constituí-lo de linguagens, caminhos, sonhos e poesias? É perfeitamente natural que se sinta estranho frente à toda e qualquer experimentação. Ele foi permanentemente trabalhado para só gostar de Galvão Bueno, Collor, “Fenômeno”, Datena, Malafaias, Xuxa, “Cilada.com”, Felicianos, novelinhas… e por aí vai a enorme quantidade de alucinações vendidas como condutas sagradas. O fascismo sabe super bem como trabalhar com o lixo da sua produção de excremento. Ou seja, a culpa não é do povo ou do público, mas do sistema todo ele fundamentado sobre a barbárie. Nunca interessou ao país um público sensível alimentado por uma pintura de Matisse, a natureza, a música de Bach, a beleza de nossas mulheres e o sonho. Aqui, o exprimível que substância a vida é o tal do “relaxa e goza” da atual Ministra da Cultura, que poderia estar em qualquer outro ministério; pois a Cultura é só um trampolim para permanecer no poder. Está claro que não tem espaço para o entendimento da poesia, e menos ainda da experimentação. Pena.
9 – Ainda assim, atualmente em vários segmentos, percebemos uma revalorização da Experimentação, ou Invenção como gostava de chamar o crítico Jairo Ferreira. Como o senhor vê essas manifestações?
R – Enquanto houver Juventude, haverá experimentação! A ditadura civil-militar de 64, não conseguiu matar a todos. E os que sobreviveram continuam influenciando a Invenção, sem palavra de ordem alguma. Invenção é fundamentalmente liberdade de criar, amar, transformar e gozar. Ao terrorismo batráquio-religioso muito comum na TV, escolas e universidades a Invenção, ou experimentação responde com a graça da liberdade e do prazer. Do ser para gozar e não para rezar! E claro que isso afeta a graça corporal e intelectual da juventude e do saber. Daí poder gostar tanto de um experimentador orgânico como Sergio Santeiro, como de um Nelson Pereira dos Santos. É preciso também dizer que o cinema de Invenção, não se consolidou nem nunca se consolidará como o cinema patronal das múmias. Razão pelo qual foi sempre combatido e censurado. Mas…ei-los uma vez mais em mil movimentos fragmentados, proclamando noções e impulsos Dionisíacos. Significativa diferença da crueldade do cinema de mercado. A invenção a exemplo do cinema do Glauber não se satisfaz em cafetinar o espetáculo, a violência e mesmo a miséria tão conveniente aos partidos políticos. A sua beleza é justamente ir além de todo e qualquer impulso conservador. É um cinema de rivalidades, sim! E se a certeza da “nota” serve bem ao cinemão patronal das múmias, as dúvidas compõem as músicas da Invenção de um sonho que quer continuar se transformando em realidade. Também não é um novo renascimento da roda, e sim uma doce continuação amorosa vivida. E se “os gregos foram os grandes educadores dos romanos”, segundo Gerd Bornheim, nosso Cinema de Invenção, é a linguagem necessária de um regresso elevado aos sonhos não realizados. Ou, um retorno a alegria e ao prazer de gozar. E é essa experiência de felicidade “estupefaciente do Outro” que a velharia não suporta no cotidiano das múmias. E o que está enraizado na criação da Invenção é a vida e a beleza, e não o horror da violência e da morte. Ambos cafetinados pelas religiões na TV!
10- E como o senhor encara esse crescente esvaziamento da linguagem, provocado pela constante banalização da TV?
R – Faz parte do show do poder e do capital. A TV e as religiões esquisofrenizam o coletivo para que não haja pensamento ou contradição. Menos ainda confronto. É uma espécie de eletrochoques diário, usado nos velhos manicômios. Sua única substância é o cocô aplicado terapêuticamente à imaginação. E para alegria do poder, os robôs normalizados, inofensivos e obedientes tanto podem bater palminhas para malucos dançar, como saírem caçando pensadores e poetas. Ou seja, é o horror que legitima o lixo televisivo contra a estranheza poética da linguagem. Pena. Não vivem aí bostejando que querem um país de classe média? E o que sempre foi a classe média? Uma total subordinação a insignificância do poder, seja lá de que partido for. Não saíram em cruzadas batendo panelas nas ruas em 64? Hoje votam no PSDB e no PT. Sendo que os outros partidos são ainda piores na fabricação dos Crivelas, Garotinhos e Felicianos da “fé”.
11- E como é viver sob o embargo econômico imposto ao cinema de vocês, pela burocracia?
R – É mais que evidente que é uma continuação piorada da censura. Antes era só política. Agora é também política, partidária, burocrática e econômica. E só filmam os velhos puxa-sacos sem talento do passado, e os “jovens” reprodutores dóceis e obedientes à ideologia dominante do cinema patronal. E que na disseminação do horror, um culto a polícia e ao espetáculo, tornam-se desejados de velhas múmias sempre coladas a qualquer tipo de poder. Só que a essa passividade das múmias, fico com um poema original e sofrido como “Helena” de Petra Costa. Um acontecimento raro num cinema tão sem expressão. “Helena” é puro cinema de Invenção! Uma viagem na linguagem documental que só me lembro de ter visto no “Pan Cinema”, no “Santiago”, no “Edifício Máster”, no “Marighela”, no “Setenta” e no “Serra da Desordem”. Petra (nome lindíssimo!) conseguiu nos fazer pensar! Coisa rara nos dias de hoje onde se vive um cinema engessado sem excitabilidade criativa alguma. Digamos, um “desinvestimento” econômico e humano na criação. Pena.
12- Dá para lembrar qual foi a sua reação pela primeira vez, lá no “Jardim das Espumas”, que o senhor se viu proibido em todo território Nacional?
R – Lembrar com precisão, não. Mas poderia ter desistido ali de fazer cinema como muitos amigos que foram para a sociologia, história e mesmo para a luta na política. Acho que doeu mais na alma que no corpo que vinha de outras batalhas também perdidas. Mas segui em frente. Novas proibições, e mais forças foram sendo exercitadas. Hoje lendo os laudos da censura, acho-os burros e patéticos! É incompreensível como se podia entender e aceitar a proibição da criação. Era o mesmo que dizer e aceitar que o gozar estava proibido de ser vivido. E caros censores de ontem, e de hoje: ternas experiências vividas vão ser sempre uma razão sublime do gozar! Poderíamos ter desistido, mas continuamos. E aí vem novas energias com Barbara de Morais, Pedro Bento, Luana Laux, Paula Sancier, Juan Posada, Gabriel Bilig, Renato Coelho, Priscyla Bettim,…
13- Tua inquietação com mais de 50 trabalhos feitos, textos, roteiros, artigos e colagens, é uma busca da renovação lingüística, ou uma maneira diferente de chamar atenção?
R – Se só fosse para chamar atenção, não faria os filmes que fiz como “O Jardim das Espumas”, “Imagens”, “A$suntina das Amérikas”, “As Últimas Imagens de Tebas”, “Guerra$” e tantos outros. Ficaria elogiando o primitivismo das múmias, a religiosidade televisiva do “Central do Brasil” ou a última comediazinha idiota da Globo Filmes. Fui sempre um experimentador, inclusive com a própria vida. Nunca cultuei a morte, nem o êxtase com o cine-cocô das bonecas televisivas. Posso ter errado sem gravidade aqui e ali, mas sempre numa busca do país, da poesia, da mulher e da beleza. Não me arrependo das muitas brigas pois me serviram de oxigênio para novos filmes e encontros. Acho que o meu cinema começa por aí: por um encontro afetivo vivo! Amei trabalhar com Jaime Rodrigues, com Sindoval Aguiar, com Echio Reis, com Grécia Vanicori, com Analu Prestes, com Nelson Dantas, Wilson Grey, Renato Coutinho, Mario Carneiro, Renaud Leenhardt, Ricardo Miranda, Ruy Guerra, Juan Posada, Marta Luz, Pedro de Moraes, Sergio Santeiro, Joana Collier, Lupercio Bogea, Pedro Bento, Luana Laux, Paula Sancier, José Carlos Asbeg, Antonio Equi, Ana Abbott, Gabriel Bilig… Há todos devo um pedaço do meu coração ainda vivo. Todos, ricas exteriorizações de experiências afetivas e de encontros solares e profundos numa des-hierarquização de fascismos impostos da casa ao trabalho. Daí a essência fundamental de cada um, na voracidade rica dos encontros afetivos.
FIM/ 2018