Memórias 187 É preciso estar do lado certo. E o lado certo é sempre o da dúvida.

26.08.2018

É preciso estar do lado certo. E o lado certo é sempre o da dúvida. Nunca o da certeza. Isso é importante para se pensar um cinema além do cinema. Não sou filho do Neo Realismo nem da Nouvelle Vague. E sim da chanchada, de Oswald de Andrade, de Graciliano Ramos, do cinema de Glauber e do Teatro Oficina. Aos cinco de certo modo devo a descoberta de Brecht, sobretudo como postura, história e linguagem. Na imprensa diária Hollywood vulgariza o estilo e o saber formando traíras e boçais. Poucos críticos são sinceros com seus encantamentos. Também nunca me interessei pelo cinema político/narrativo tipo “Z”, embora não negue a sua importância em termos de comunicação. Mas fico com TERRA EM TRANSE, Visconti, Rossellini, Antonioni e Pasolini que me dão um sentido do realismo mais contraditório e profundo. Amo o cinema do Bergman embora veja com mais frequência o de Orson Welles e do Godard. No cinema brasileiro antes eu acompanhava tudo por ofício no INC. Saindo de lá só o do Tonacci, da Ana Carolina, do Joaquim Pedro e do Nelson Pereira. Hoje só o do Sérgio Santeiro, do Joel Yamaji, da Petra Costa e do João Moreira Salles. Sempre achei o cinema partidário um saco! Como Godard prefiro fazer politicamente um filme, que fazer um filme político. No documentário amo Chris Marker e de certo modo seus bons seguidores. Infelizmente poucos vistos entre nós. A insinceridade reina das distribuidoras aos exibidores. Nosso mercado é pobre, só interessado nas receitas e submissão ao cinema de Hollywood. A ele como um todo, tirando as raras joias autorais, prefiro o cinema do Wajda ou o exemplar MADRE JOANA DOS ANJOS que vi muitas vezes. Já não perco mais meu tempo com o domínio do idiotismo como modelo a ser seguido. Prefiro me perder na complexidade do cinema do Resnais ou do Rivette onde encontro uma cinematografia viva! Sem abrir mão de Sokurov, Tarkowski, Losey e Kubrick. Para concluir gosto de um cinema que me faça pensar. Que triplique meus sonhos, encontros e paixões. Um cinema que avance mesmo não sendo aceito. E Straub me parece ser uma necessidade a ser estudada. Não por obrigação, mas por saber e necessidade. (P/ Joel Yamaji) Luiz Rosemberg Filho/Rô

Joel Yamaji