Memórias 189 QUEBRANTO, filme de José Sette

26.08.2018

“QUEBRANTO” é o esforço de José Sette por um cinema ousado, sem regras e demoníaco além das explicações possíveis. Por que se precisa explicar tudo? Cada um que encontre a sua interpretação possível. Não é um filminho de colagens fáceis, mas de reflexões profundas. Um filme de amor, de paixões e contradições demonstrando uma jovem transcendência da maturidade além de toda e qualquer apatia. Pensar “QUEBRANTO” é vagar poeticamente na experimentação dos bons e maus atores. Um filme onde o encontro não é simplista mas estranho e ousado. É preciso entender que não se descobre o outro com facilidades, mas com tempo. Tempo do encontro, da vida e da morte. Inerte sua paixão não realizada já sem vida numa banheira cheia de sangue. No início era o sol no cinema brasileiro. Agora é a banheira com sangue. Vamos ver isso no CRÔNICA DE UM INDUSTRIAL, no filme do Sette e nos PRÍNCIPES. Bem, como experiência individual QUEBRANTO é o infinito dos afetos sendo pensado. Embora pareça irônico, é um arco-íris vigoroso nas suas cores. Filme estimulante a quem faz cinema não-narrativo. Arrasador para os limitados que não conseguem sonhar. Sette volta sofisticado sem sentimentalismo algum. Sua experiência ousada lembra o cinema de Glauber em CLARO, rodado em Roma. Sendo que Zé trabalha a criação, a família (as ótimas irmãs) e o amor sem jogo de palavras. E entre necessidades, impulsos e desejos QUEBRANTO de certo modo profecia a Bíblia: “Não haverá água e sim fogo, da próxima vez”. Sette abusa do saber e da literatura via Joyce. O filme me lembra também um poema de T.S. Eliot: ” Disse à alma – fica quieta e espera sem esperança./ Pois a esperança seria errônea; espera sem amor,/ Pois o amor seria pelo objeto errado; existe ainda a fé/ Mas a fé e o amor e a esperança estão todos na espera,/ Espera sem pensar, pois você não está pronto para pensar:/ E a escuridão será luz, e a quietude será dança.” Dançar o amanhã de Godot. QUEBRANTO são pedaços de trágicos movimentos esfarrapados menosprezados pela razão. Ainda assim José Sette acredita na força do humor, do amor e da criação. Basta ver a doce Mariana de Moraes cantando um bolero e os quadros ontológicos de cores fortes pintados pelo Zé. Vamos em frente! (Luiz Rosemberg Filho/RÔ)