Memórias 190 Até esqueço por momentos os porcos vorazes da politica e ........
Acordar pela do manhã e ver a luz sobre a cidade constitui o reconhecimento da beleza viva e por vir. Até esqueço por momentos os porcos vorazes da política e os vestígios dos traíras do mundo do cinema disfarçados de generosos aprendizes que jamais alcançaram profundidade pois só abrigam a solidão do não-saber, da truculência, da repressão na ordem e de eternizar-se no domínio de um estado de desumanização permanente. Apesar disso ainda vivo em estado de encantamento com a música clássica, com as lindas mulheres inatingíveis, com livros embelezadores da alma, com o mundo infinito das imagens pensadas e com as dúvidas da existência. Queria ter sido poeta, filósofo, músico, artista plástico…e só consegui ser um homem de cinema. É pouco e é muito pois o meio lembra mais um chiqueiro de porcos famintos, que um espaço do pensamento! Mas não desvalorizo nada de profundo, vindo do mundo da criação. Só não suporto mesmo a censura e a traição. Curiosamente o traidor sempre acha uma justificativa para não deixar sangrar seu pensamento, suas ações e palavras. Pode ser que na política sejam mais safos! No cinema são mais broncos né? Não trazem angústias e contradições em suas vidas. E sim o cinema como quantidade, hobby, brinquedinho ou passatempo. É também um trabalho, mas alienado pois não tem prazer. No lugar de aproximar, afasta. Mas alguns já são passados. Estão mortos! Nem por isso deixo de sonhar. Desde os anos 90 penso em filmar alguns monólogos que escrevi. Nunca os mostrei a nenhum produtor pois não iriam bancar ou querer que fossem feitos por suas amantes ou mulher. Então também não precisam ler! Na verdade tenho muitos espaços dentro da alma e fico entre as imagens pensadas e as músicas de Bach, mesmo não sendo religioso. Meu maior prazer não é de modo algum provocar velhos ou novos inimigos, mas flanar “no infinito e virar constelação”. Prefiro entender o movimento dos afetos verdadeiros que uma luta na TV! No mundo do saber tudo que se explica com facilidade é pobre. E por que se precisa compreender tudo? Não tem aí uma certa arrogância? Enfim, a revolução não se faz no cinema e sim na vida. Também nunca fiz cinema por vaidade ou afirmaçãozinha, mas por necessidade, dúvidas e incertezas. E minha maior influência sou eu mesmo. Sigo em frente “sem lenço nem documento” pois fui roubado em plena luz do dia no Largo dos Leões! Luiz Rosemberg Filho/Rô