Memórias 195 Os personagens de OS PRÍNCIPES
Os personagens de OS PRÍNCIPES estão todos imersos em clichês que não são nossos. E em nenhum momento expressam prazer pois só gozam com o vazio e a violência também importada de guerras perdidas. Vazio e a violência de fora para dentro. É sim, um filme desobediente com ações físicas distanciadas. O invisível e o legível nunca é espetacularizado, mas pensado e vivido sem contradição alguma associativa. O impulso básico é o de explorar na carne a subjetividade das ações. O Brechtianismo é de mostrar a ação e não de sentir os fluxos de ascensão e queda de todas as personagens. Isso permitiu aos atores um tempo subjetivo de espontaneidade preenchido com um inventar de habilidades comuns, com pinceladas complexas. Eu tinha em mente correndo nas veias o Brasil, Pasolini de ACCATTONE e Kubrick. Não ilustrando-os, mas embaralhando rupturas poéticas. Devo aos atores uma entrega pouco vista no nosso cinema de ficção. Assumiram o roteiro e foram além! Como é tudo muito vazio é um tchekovianismo tropical que traz consigo o Napalm como única substância possível da nobreza decadente. Todos são mortos/vivos sem história alguma. A grosso modo os homens são sim fascistas e as mulheres suas vítimas. E o país não virou isso? Não é um filme para bocejar e dormir,mas para pensar o por que de tanto HORROR! Deu de tudo no filme: estranhamentos, brigas, ódios e rompimento. Botamos todos os nossos podres para fora com voz alta! A brutalidade latente é o país do Temer. E com isso o vômito! A teatralidade da perversão e da loucura deixamos todos aflorar. Sinto muito vivermos num país assim: mediano e burrificado pela mídia e pela política. No açougue Brasil não tem poesia! Me foi difícil escrever o texto, e mesmo filmá-lo muitas décadas depois. Foi sim uma tarefa sobre humana por parte de todos, sem afeto algum. Eu mesmo fiquei espantado com a complexidade aberta da violência, mais que necessária! É sim um mergulho fundo na tragédia do continente. Digamos, um filme que gira em torno de uma conspiração de demônios. E os demônios não gostam de brinquedos, mas da dor humana. De um teatro sujo no inferno de nossas vidas. Claro que as almas "sensíveis" vão torcer o nariz pois não tem doce de leite! É sim uma reviravolta na vida de todos e muito na de Igor Cotrim, Alexandre Dacosta, Ana Abbott, Tonico Pereira... Gostem ou não gostem é um filme assumido com poucos defeitos e muitas qualidades! (P/ Igor Cotrim , Alexandre Dacosta, Tonico Pereira, Ana Abbott...) Luiz Rosemberg Filho/Rô