Memórias 198 Financiamento público
Brecht dizia que: "A indústria do cinema é demasiado estúpida e tem de chegar primeiro à bancarrota." Infelizmente isso traduz-se por uma forte produção de mercadorias adequadas aos interesses do capital comprometido com a ideologia dominante do espetáculo e da alienação. Quando não é isso paga-se para trabalhar no neo romantismo de produtores picaretas que se vendem como independentes mas metem suas patas no pensamento próprio que lhes falta, no domínio das ideias , do saber e do encantamento Conheci vários ao longo da vida e todos de algum modo se parecem. Quem se lembra hoje do nome do produtor de OS FUZIS, DEUS E O DIABO ou mesmo FOME DE AMOR ? Somem! Aí muitos desaparecem e outros pensam que podem virar cineastas! Até viram mas deixam muito a desejar pois não confrontam suas discrepâncias de formação burra, burguesa e muitas vezes policial. Justiça seja feita: broncos podem ter talento? Não. Como não existem direitos para quem cria a sentença é contornar taticamente o pensamento para lidar com os falsificadores burgueses. E voltando a Brecht: "A cultura burguesa não é aquilo que ela pensa sobre a prática burguesa." O fanfarrão nunca vai se ver como censor ou travado! Mas se vende como herói luminoso. Só que do atraso! É o bufão da vez. O erro reside em já termos tido INC, EMBRAFILME, ANCINE...e depender-se ainda desse tipo menor de gente! Nosso cinema não poderia ser melhor? Volto a repetir o que perguntava ainda lá no INC: Não daria para os financiamentos públicos saírem em nome dos realizadores, e eles terem 90 dias para apresentarem legalmente uma produtora limpa, aceita pela instituição? Essa coisa do dinheiro sair para a produtora cria-se uma relação frágil de patrão e empregado! E aí muitas vezes a criatividade vai para o espaço. E se isso não ocorre a invenção sai sim muitas vezes doída, sofrida, sem forças... Cinema é a arte do PENSAMENTO e da poesia visual que necessitam da liberdade e do encantamento não submetido ao capital ou ao desmonte dos sonhos e da linguagem através da qual não se deixa coagular o saber necessário, a solidariedade ao respeito, ao afeto e a paixão. Energia necessárias nos reconduzindo a todos ao ser humano como obra de arte! A criação é sim uma reinserção na linguagem poéticas dos afetos! (P/ Pedro Bento) Luiz Rosemberg Filho/RÔ